Abstract

Neste estudo, que metodologicamente orienta-se pela Teoria dos Cineastas, exploro algumas ideias de Tarkovkski sobre poesia, expressas em declarações verbais suas, mostrando como essas ideias dão sustentação à sua própria concepção de cinema e de arte. Opostamente à noção de poesia como evasão ou como atividade simbólica , Tarkovski firma uma concepção de poesia (e de cinema) fundada numa experiência do real, experiência esta que demanda uma observação atenta dos fenômenos nos quais o tempo se imprime e que dá suporte à própria ontologia de seu cinema. Um diálogo das ideias do cineasta com ideias e práticas poéticas de outros poetas, como seu pai Arseni Tarkovski, Octavio Paz, Sophia de Mello Breyner Andersen e haicaístas japoneses tradicionais também é feito, no sentido de ampliar a leitura das próprias ideias de Tarkovski, pondo-as em diálogo.

Highlights

  • Poesia e TempoA centralidade do tempo na compreensão da ontologia do cinema segundo Tarkovski é uma evidência.

  • Esculpir o tempo não é, para Tarkovski, nada além do que uma maneira de dar expressão rítmica ao tempo (2010, 144), coincidindo, assim, com a atividade do poeta como definido por Octavio Paz (2012).

  • Trata-se então, em Tarkovski, de pensar a relação entre tempo e cinema a partir deste núcleo de poesia que é o ritmo, tempo poético, por meio do qual o cineasta revela seu próprio estilo e assenta a verdade de sua obra.

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Summary

Poesia e Tempo

A centralidade do tempo na compreensão da ontologia do cinema segundo Tarkovski é uma evidência. Esculpir o tempo não é, para Tarkovski, nada além do que uma maneira de dar expressão rítmica ao tempo (2010, 144), coincidindo, assim, com a atividade do poeta como definido por Octavio Paz (2012). Trata-se então, em Tarkovski, de pensar a relação entre tempo e cinema a partir deste núcleo de poesia que é o ritmo, tempo poético, por meio do qual o cineasta revela seu próprio estilo e assenta a verdade de sua obra. O ritmo, para Tarkovski, não é, porém, algo artificialmente criado, ele é antes percebido, o que impõe ao cineasta, como ao poeta, uma capacidade acurada de observar os fenômenos (da vida e da imagem cinemática). A escultura ou a poiesis do tempo/ritmo depende, portanto, inteiramente desta capacidade de observação dos fenômenos, que é entendida por Tarkovski, como se verá a seguir, como uma capacidade intrínseca do olhar poético

Cinema e observação
Poesia e Real
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