Abstract

Este artigo propõe uma reflexão sobre A Dança dos Paroxismos (1929), de Jorge Brum do Canto (1910-1994), motivada por diversas pistas de interpretação lançadas nos intertítulos iniciais, designadamente a apresentação da obra como um “ensaio visual” e como um “filme português”, e a dedicatória ao cineasta Marcel L’Herbier. Perspetivando o filme em função de alguns pressupostos do cinema da Primeira Vanguarda Francesa, na qual se inscreve L’Herbier, identifica-se e caracteriza-se um programa estético que, no filme de Brum do Canto, se materializa numa questão que, sendo primariamente diegética, transporta também implicações teóricas determinantes: todo o filme corresponde à alucinação de um moribundo. Através de uma análise aproximada de A Dança dos Paroxismos, investiga-se, por fim, de que modo este filme — um dos primeiros casos de “cinema onírico” — pode constituir um complexo “ensaio visual” sobre o cinema da Primeira Vanguarda Francesa.

Highlights

  • This article proposes a meditation on Jorge Brum do

  • on several clues that are disclosed in the opening credits

  • well as the fact that it is dedicated to director Marcel L'Herbier

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Summary

José Bértolo

R E SUM O Este artigo propoe uma reflexao sobre A Dança dos Paroxismos (1929), de Jorge Brum do Canto (1910-1994), motivada por diversas pistas de interpretaçao lançadas nos intertítulos iniciais, designadamente a apresentaçao da obra como um “ensaio visual” e como um “filme portugues”, e a dedicatoria ao cineasta Marcel L’Herbier. No cinema de L’Herbier, de forma porventura mais acentuada do que se verifica nos filmes dos restantes cineastas associados a Primeira Vanguarda, a imagem deve ser entendida como um real em si mesma, o que nos leva a reinterpretar a crítica lançada por Canudo, segundo a qual L’Herbier seria um formalista-simbolista fora de tempo: “um jovem simbolista atrasado, lançado ao cinematografo” (Canudo apud Guerreiro 2015, 264).. A apropriaçao do poema narrativo “Les Elfes” de Leconte de Lisle, do qual o filme e efetivamente uma especie de adaptaçao,[9] associada a presença de L’Herbier, nos termos em que atras caracterizei sumariamente a obra deste realizador frances, permite-nos localizar desde logo o trabalho de Brum do Canto num universo estetico e conceptual preciso — muito diferente daquele desenvolvido por Leitao de Barros e Oliveira nos filmes antes referidos —, e que o filme tratara de desenvolver no seu decurso. Desta mesma panoplia de referencias deu conta Benard da Costa no paragrafo que dispensa ao filme na sua obra, referindo, para alem do parnasianismo literario, tambem os ballets russes e o théâtre d’avant-garde (1991, 44)

Ensaio e experimentação
Da narrativa ao cinema da mente

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