Abstract

A posse de relíquias pode projetar simbolicamente um território como sagrado, protegido por Deus e por seus santos, através de algo táctil, visível, concreto, uma espiritualidade que passa pela materialidade e manifestação divina protetora de uma região e de um povo especial, considerado separado e escolhido. Diante da possibilidade de rememoração da Terra Santa (e de transposição de suas relíquias), o ocidente cristão medieval recriou e readaptou em seu território localidades que seriam reconhecidas como espaços sublimes, depositando aí vestígios especiais, que poderiam garantir a excepcionalidade dos lugares. Fenômeno de longa duração o traslado de corpos e objetos perpassa a história da religião cristã, desde seus primórdios. A promoção de cidades e santuários, garantida pela presença do divino táctil, produziu e solidificou o culto às relíquias. Os traslados dos restos sagrados se constituem em momentos importantes no fortalecimento deste culto, peregrinações, performances, rituais e símbolos corroboram para a emotividade deste movimento. Neste artigo temos a intenção de discutir o traslado das santas relíquias como um fenômeno de longa duração, tendo por estudo de caso o solenne recebimeto das Santas Reliquias, que forão leuadas da See de Coimbra, ao Real Mosteyro de Santa Cruz e a trajetória de Santa Dulce dos Pobres, a primeira mulher nascida no Brasil canonizada pela Igreja Católica, cujos restos corporais foram depositados na Capela das Relíquias, construída para este fim. Este conjunto de lembranças comuns é fator identitário, produto de uma tradição forjada, construída e gradativamente estabelecida.

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