Abstract

O ato de narrar é uma prática social muito antiga, presente em incontáveis sociedades. Das origens da narrativa oral ao surgimento do gênero romance, chegando ainda às narrativas em sistemas semióticos para além do sistema linguístico, vê-se que o ato de narrar tem sofrido mutações e se diversificado. A mutação da narrativa alterou também a figura do narrador, e instaurou a figura do autor com o advento do romance literário. Alguns narradores de romances modernos e contemporâneos se apresentam como verdadeiros desafios para os estudos tradicionais da narratologia, que visam a categorizações e tipologias estanques. Diante disso, o objetivo deste ensaio é descrever algumas peculiaridades da figura do narrador em Memorial do Convento (1982), de José Saramago, reforçando a dificuldade que uma nomenclatura tem em delimitar o narrador saramaguiano. A hipótese levantada é a de que o narrador de Memorial do Convento é um tipo de narrador personagem onisciente, não envolvido na trama narrativa, mas testemunha ocular dela. A onisciência frequentemente demonstrada pelo narrador, e as marcas textuais que o colocam dentro do universo narrado, dão a esse narrador alguma verve sobrenatural. As reflexões aqui propostas apontam como a variedade de recursos linguísticos usados pelo narrador avigoram seu caráter sobrenatural.

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