Abstract
O aumento significativo, nas últimas décadas, da produção de obras literárias fortemente marcadas pela inclusão de fotografias, pela apropriação e colagem de documentos, e por manipulações gráficas e tipográficas, dentre outras operações realizadas nos níveis textual, paratextual e perigráfico, tem exigido um reexame do modo como nos aproximamos analiticamente das mesmas. Se pensar na relação literatura e imagem significava, predominantemente, refletir sobre a produção de imagens poéticas por meio de tropos linguísticos, os processos crescentes de fixação de imagens e outras formas de visualidade na página impressa exige hoje, do leitor, a consideração da literatura como um objeto complexo, marcado pelo trânsito de linguagens e por modos técnicos de articulação do sentido. É dentro dessa perspectiva que este artigo buscará mapear as condições de emergência desse fenômeno no âmbito da literatura contemporânea brasileira e propor algumas formas de articulação analítica entre literatura, imagem e visualidade hoje.
Highlights
The significant increase, in recent decades, of the production of literary works strongly marked by the inclusion of photographs, the appropriation and collage of documents, and graphic and typographic manipulations, among other operations carried out at the textual, paratextual and perigraphic levels, has required a reexamination as we approach analytically them
Embora seja possível traçar uma linha de continuidade entre as formas de escrita desenvolvidas hoje e aquelas que remontam às experiências vanguardistas do final do século XIX e início do XX, o desenvolvimento das tecnologias digitais, nas últimas décadas, influiu decisivamente em um sensível aumento quantitativo e qualitativo dos modos como literatura, imagem e visualidade se tocam na tela ou na página impressa
Na medida em que esses fenômenos expandem a abrangência do literário e exigem a consideração do trânsito de linguagens, mídias e materialidades no seu exame, nos interessa indagar: como pensar as complexas relações entre literatura, imagem e visualidade no âmbito da literatura contemporânea brasileira? De que forma essas novas tecnologias influem na formação de uma sensibilidade intermedial dos escritores e que novas possibilidades representativas e de construção de sentidos elas oferecem? Buscarei refletir sobre essa questão em quatro momentos
Summary
A fricção entre os vocábulos literatura e imagem abre caminhos que se bifurcam. Podemos pensar em textos que descrevem ou evocam imagens; em imagens que se formam à consciência a partir da decodificação de signos verbais; em trechos de obras literárias transpostas para outras mídias; e, ainda, em páginas ou telas que justapõem textos, ilustrações, reproduções de pinturas ou de fotografias, dentre outras bifurcações ainda possíveis. A teoria da literatura, ao longo do século XX, ampliou essa concepção, situando-a, como nos mostra Octavio Paz, no âmbito das operações realizadas no nível da retórica: designamos com a palavra imagem toda forma verbal, frase ou conjunto de frases que o poeta diz e que juntas compõem um poema. Falar em imagem na literatura implica conceber o literário como algo que não abrange mais somente o signo verbal e a sua potencialidade de produção de representações à consciência, mas também os deslizamentos e expansões de sentido que o mesmo opera ao ser friccionado com imagens gráficas e recursos variados que conferem determinada forma de visualidade à página impressa. Gostaria de propor, na próxima seção, o exame do seguinte problema: quais são as condições de emergência dessas práticas e em que medida elas estariam relacionadas com o modo como as tecnologias contemporâneas influem na formação de uma sensibilidade intermedial dos escritores?
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