Abstract

Objetivamos, nesse trabalho, analisar o movimento terraplanista com a utilização do referencial oferecido pela teoria do conhecimento de Ludwik Fleck (1896-1961). O terraplanismo é um fenômeno social que pode ser associado à problemática da chamada “pós-verdade”. A crença de que a Terra é plana e de que o conhecimento científico construído historicamente a esse respeito está errado vem, aparentemente, crescendo no Brasil e no mundo. Um reflexo disso foi a realização, no final de 2019 em São Paulo, da primeira Convenção Nacional da Terra Plana. Tomando como base os discursos proferidos nas diversas palestras ocorridas durante esse evento, esse trabalho, de cunho qualitativo, buscou identificar elementos característicos do pensamento desse grupo. Por meio da análise das notas de campo de observação, identificou-se um conjunto prévio de seis características do discurso terraplanista, detalhadas no corpo do trabalho. Em seguida, procedeu-se à análise desse material a partir do referencial oferecido pela epistemologia de Fleck. Especificamente, os conceitos fleckianos de estilo de pensamento, coletivo de pensamento, circulação intracoletiva e intercoletiva de ideias, círculos esotérico e exotérico, acoplamentos ativo e passivo, harmonia das ilusões e protoideias mostraram-se úteis na caracterização e interpretação do movimento terraplanista. Ao final, tecemos algumas reflexões que, a nosso ver, deveriam ser objeto de atenção da área de ensino de ciências/física no que diz respeito a essa temática, em particular, a necessidade de estarmos atentos a esse fenômeno social, problematizando-o. Defendemos que um ensino crítico da ciência e o respeito a pontos de vista diversos aos cientificamente aceitos não deve implicar em uma desvalorização do pensamento científico.

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