Abstract
A escritora bielorrussa Svetlana Aleksiévitch se notabilizou por criar em seus livros coleções de relatos orais de testemunhas anônimas de marcos históricos da União Soviética. Em oposição à historiografia oficial, que privilegia os grandes personagens e acontecimentos, sua obra destaca memórias de pessoas comuns que tiveram suas vidas atravessadas por esses eventos. Para isso, a voz da autora pouco aparece textualmente em seus livros, de modo a fazer com que as vozes das testemunhas contem suas próprias histórias. No entanto, para que essas histórias isoladas ganhem o aspecto coletivo necessário para a transmissão do testemunho, a autora se vale de estratégias de seleção e organização dos relatos. Em Vozes de Tchernóbil, uma dessas estratégias é a repetição de certas imagens em diferentes testemunhos, como por exemplo a terra e o túmulo. Como afirma Aleida Assmann (2021), a terra e o túmulo são algumas das muitas metáforas da memória, imagens que se tornaram essenciais para a compreensão teórica e conceitual sobre a recordação. Tendo em vista que memória e esquecimento são temas centrais da obra de Aleksiévitch, acredito que a recorrência deliberada dessas imagens se torna uma forma da autora ligar histórias particulares a um imaginário coletivo sobre a recordação. Sendo assim, este trabalho propõe analisar como as diferentes aparições dessas imagens em Vozes de Tchernóbil podem estar relacionadas a um pensamento conceitual, a partir de uma breve arqueologia da terra e do túmulo como metáforas da memória.
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