Abstract
Neste texto, proponho uma abordagem de neutralização de gênero em português brasileiro na perspectiva do sistema linguístico. Para isso, parto de considerações sobre a caracterização de mudanças deliberadas e sobre os padrões de marcação e produtividade de gênero gramatical na língua. São avaliados, nessa perspectiva, quatro tipos de empregos correntes de gênero inclusivo: uso de feminino marcado no caso de substantivos comuns de dois gêneros (ex. a presidenta); emprego de formas femininas e masculinas, sobretudo em vocativos, em vez do uso genérico do masculino (ex. alunas e alunos); inclusão de novas marcas no final de nomes e adjetivos, como x e @ (ex. amigx, amig@), ou ampliação da função de marcas já existentes, como -e (ex. amigue); alteração na base de pronomes e artigos (ex. ile, le). Desses empregos, além do feminino marcado e do contraste entre formas femininas e masculinas, que já têm uso significativo na língua, proponho que, no domínio da palavra, -e encontra condições menos limitadas para expansão no sistema no subconjunto de substantivos e adjetivos sexuados.
Highlights
Sobre gênero neutro em português brasileiro e os limites do sistema linguístico Neste texto, proponho uma abordagem de neutralização de gênero em português brasileiro na perspectiva do sistema linguístico
Four types of current uses of inclusive gender are evaluated: marked feminine in case of two genders nouns; contrastive and concurrent feminine and masculine forms, especially in vocatives, instead of the generic use of masculine; special characters closing nouns and adjectives, such as x and @, or extension of the function of existing marks, such as -e; change in the base of pronouns and articles. Among these forms, in addition to the marked feminine and the contrastive use of feminine and masculine forms, which already have significant use in the language, I propose that, in the domain of the word, -e finds less restricted conditions for expansion in the system considering the subset of nouns and adjectives denoting biological sex
Convidado a co-organizar um painel no evento ABRALIN AO VIVO sobre uso inclusivo de gênero e a proferir uma palestra sobre tema análogo no evento CONVERSA COM O GEFONO, e tendo realizado pesquisa sobre produtividade de marcadores gramaticais de gênero nos últimos 4 anos, identifiquei a demanda de pensar sobre as restrições de natureza fonológica e morfológica envolvidas na instanciação de um suposto gênero neutro em português, objeto central deste artigo
Summary
Ao falar pela primeira vez sobre a ciência para alguém, precisa explicar pelo menos duas coisas: que línguas naturais não são objetos caóticos e que não prescrevemos comportamentos linguísticos. Assumindo-se, então, o pressuposto de que, sim, o sistema pode se sujeitar a mudanças demandadas conscientemente pelos falantes, como uma que alterasse a morfologia de gênero do PB, o questionamento se situa no seu grau de espontaneidade e de naturalidade – critérios igualmente não dispensados por uma mudança deliberada. O exame da densidade de uso de formas inovadoras em postagens de redes sociais, por exemplo, é um expediente que pode contribuir para a compreensão do grau de espontaneidade na propagação de uma mudança deliberada. Atestável de modo geral por meio da comparação de processos entre diferentes línguas, muitas vezes com base no que tradicionalmente se rotula como universais linguísticos, naturalidade é aspecto que também pode ser avaliado no interior de um sistema, considerandose a preservação de contrastes e a relação entre regras/restrições ativas nos diversos subsistemas. Essa tese é retomada mais adiante, na seção 3, quando problematizo a naturalidade de algumas das propostas para marcação neutra de gênero em substantivos do PB, levando em conta restrições de base fonológica, morfológica, sintática e semântica
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