Abstract
No português brasileiro, pode-se assumir que as desinências -o e -a representam as regras gerais de marcação de gênero para masculino e feminino, respectivamente. Porém, tem-se notado a emergência de novas estratégias de marcação gramatical de gênero, entre as quais se observam estratégias desinenciais, como -x (‘alunx’), -@ (‘professor@s’) e -e (‘todes’), e formas pronominais como ‘elu’, ‘ilu’ e ‘ile’, a fim de não se especificar, na estrutura linguística, uma distinção binária de gênero social. O uso dessas estratégias decorre do fato de que há pessoas que não se sentem representadas pelo masculino ou pelo feminino; decorre também da percepção de que as formas de masculino, no português, são comumente empregadas com referência genérica, o que marca como ‘diferentes’ todas as manifestações de gênero não-masculinas, entre as quais se encontram as femininas e as não-binárias. Entretanto, o emprego dessas estratégias de neutralização (ou não especificação) de gênero esbarra em algumas restrições apresentadas pelo sistema linguístico. Portanto, neste ensaio teórico, descrevemos, em linhas gerais, o tratamento do gênero gramatical nos estudos linguísticos e algumas estratégias de não especificação de gênero na gramática do português; identificamos algumas restrições ao seu emprego do ponto de vista estrutural da língua; e visamos a compreender as questões sociais que levam à implementação dos novos usos linguísticos. Entendemos que, como linguistas, precisamos descrever a língua tal como efetivamente é usada e, por meio da reflexão sobre as estratégias de neutralização de gênero, contribuir para os diálogos acerca de um tema tão polêmico e necessário.
Highlights
In Brazilian Portuguese, one might assume that the terminations -o and -a represent the general rules for marking respectively the masculine, and the feminine genders
No entanto, a relação estabelecida entre os gêneros gramaticais associados a essas palavras e os significados com os quais se empregam, já que força, poder e agressividade são características amplamente vinculadas à masculinidade, ao contrário do romantismo e da beleza, que se atrelam a traços mais ‘femininos’ (ECKERT; McCONNELL-GINET, 2003)
Ainda que o substantivo ‘responsáveis’ não especifique, em si mesmo, gênero masculino ou feminino, outras palavras – como adjetivos e determinantes – demandam essa marcação de gênero ao se associarem ao nome, e não é incomum que sejam empregadas com o gênero masculino: ‘os responsáveis’, algo que também se evidenciaria em prováveis referências anafóricas por meio, por exemplo, do pronome ‘eles’
Summary
A ‘linguagem neutra’ ou ‘não-binária’ nasce, certamente, de uma demanda social que, então, se manifesta na estrutura linguística, além de em outros aspectos da cultura. Isso ilustra que não há uma correspondência isomórfica entre gênero social e gênero gramatical (nesse caso, por meio da desinência de gênero) e, ao mesmo tempo, reafirma o uso do feminino como cadernos.abralin.org marca de pejoratividade. No entanto, a relação estabelecida entre os gêneros gramaticais associados a essas palavras e os significados com os quais se empregam, já que força, poder e agressividade são características amplamente vinculadas à masculinidade, ao contrário do romantismo e da beleza, que se atrelam a traços mais ‘femininos’ (ECKERT; McCONNELL-GINET, 2003).. Ainda que o substantivo ‘responsáveis’ não especifique, em si mesmo, gênero masculino ou feminino, outras palavras – como adjetivos e determinantes – demandam essa marcação de gênero ao se associarem ao nome, e não é incomum que sejam empregadas com o gênero masculino: ‘os responsáveis’, algo que também se evidenciaria em prováveis referências anafóricas por meio, por exemplo, do pronome ‘eles’. A seguir, descrevemos algumas dessas estratégias de neutralização de gênero, isto é, de estratégias que fogem à tradicional especificação de gênero feminino ou masculino
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