Abstract
Os mitos antigos não estão mortos. A partir desta afirmação fundamentada nas obras de autores como Warburg, Jean Seznec, Erwin Panofsky e Fritz Saxl, este trabalho pretende apontar os caminhos históricos que legitimaram a sobrevivência do mito das sibilas no mundo cristão, em sua estreita relação com a astrologia. O paganismo não renasceu após o medievo, mas esteve sempre presente no cristianismo, não só como símbolos, mas como efetiva influência essencial sobre os homens e as suas vidas. Alguns momentos históricos em particular são privilegiados neste caminho, desde os padres apologistas do cristianismo primitivo até o nascimento da ciência moderna. Sibilas e astrologia, como testemunhos “de fora” são presença constante seja na teologia cristã, seja na literatura e na música, ou nas representações plásticas do mundo cristão, que aqui privilegiamos. A sua sobrevivência ou pós-vida (Naschleben) é ora afirmada também pela legitimação de grandes nomes da patrística e da escolástica, e ainda por meio da influência de Albumasar, teólogo muçulmano nascido no século VIII e que faz o elo entre sibilas, astrologia e a Virgem Maria. O que fazem as sibilas nos tetos das igrejas católicas? É esta a pergunta que o presente trabalho pretende, em grande medida, responder.
Highlights
A pergunta mais recorrente de quem ergue os olhos para a abóboda de uma das inúmeras igrejas que são adornadas com sibilas pelo mundo afora é: o que fazem as profetisas pagãs no teto de uma igreja católica? É uma ótima pergunta e a resposta, como todo resultado de uma boa interrogação, é multifacetada e transdisciplinar
É nesse contexto mitológico que se inserem as sibilas e seus oráculos, ainda que, do ponto de vista da compreensão do mito, alguns problemas se interponham
Na mitologia greco-romana, as sibilas, quando ligadas a um deus, são profetisas de Apolo e têm a função de dar a conhecer os seus oráculos
Summary
Não é tarefa simples deslindar o caminho percorrido entre a sibila pagã e sua incorporação pelo cristianismo. Não é de se espantar que a persistência da influência da religião astral apareça, por exemplo, quando a Igreja, em meados do século IV, de certa maneira substituísse Cristo pelo Deus Sol, enquanto Sol da Justiça, Temática Livre – Artigo original: Sibilas: a sobrevivência das profetisas pagãs no mundo cristão mudando a data do seu nascimento para 25 de dezembro, isto é, para o dia que, para os pagãos, significava o aniversário do sol. Os próprios evangelhos ligando o milagre do eclipse solar à morte de Cristo, e também contando a lenda dos Reis Magos que viram uma estrela no Oriente a partir da qual foram guiados a Belém, acabaram por colocar em estreita relação a astrologia com a vida de Jesus como nos informam Boll e Bezold Não só o ambiente literário será aqui afrontado, mas também, em linhas gerais, as representações plásticas das sibilas a ele correlatas
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