Abstract

A abordagem conhecida como Saúde Centrada na Pessoa (SCP) tem seu foco nos indivíduos tomados como pessoas e não apenas como pacientes. Contudo, em filosofia, segundo as abordagens tradicionais, nem todos os seres humanos são (estritamente) “pessoas”. Ora, se para a SCP, importa tomar a todos os pacientes como pessoas, é preciso repensar as definições e conceitos propostos pelas mais diferentes abordagens ontológicas sobre a personalidade. Afinal, não são apenas os indivíduos com um self maduro e racional que demandam cuidados em saúde. Para a SCP, recém-nascidos, bebês, crianças, deficientes mentais e idosos com demência, e mesmo as pessoas portadoras de transtornos graves de consciência (TGC), também são pessoas com direitos a cuidados de saúde. Portanto, levando a SCP a sério, parece necessário que o conceito de pessoa seja estendido para incluir indivíduos com níveis de consciência insipientes ou imaturos, bem como aqueles com deficiências mentais graves ou permanentes. Neste artigo, discutiremos criticamente alguns conceitos filosóficos influentes sobre o que entendemos ou devemos entender por “pessoa”, buscando uma abordagem mais ampla e inclusiva. Propomos uma abordagem ontológica segundo a qual pessoas são compreendidas como seres dotados de uma biografia socialmente reconhecida, o que implica reconhecer esses indivíduos como portadores não apenas de necessidades em saúde, mas de interesses e demandas legítimas. Tais interesses e demandas, além das necessidades em bem-estar, não são expressos diretamente por elas devido, dadas suas deficiências graves, como ocorre com os indivíduos com TGC. Disso resulta que, no âmbito de uma SCP, para os pacientes que padecem de TGC, não é apenas o cuidado que importa, mas também o respeito. Os cuidadores, portanto, devem não apenas cuidar, movidos por simpatia ou compaixão, do bem-estar desses indivíduos, mas também devem se preocupar em respeitar seus interesses e direitos, interpretando-os de forma empática, à luz de sua história pessoal ou biográfica. Nossa conclusão é que, para ser coerente, a SCP deve considerar pessoas com TGC como pessoas, e que nosso conceito revisado de personalidade se adapta perfeitamente a essa exigência.

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