Abstract

Os vários volumes coordenados por Pierre Nora para perseguirem uma história dos lugares da memória da França tornaram-se em referência teórica multidisciplinar para quem, como nós, procura reconstruir as memórias com que se organiza hoje a terra dos aborígenes Potiguara do Brasil. Na introdução ao volumoso trabalho que dirigiu durante oito anos, Nora explicava o seu entendimento epistémico da noção de “lugares da memória”, sublinhando que um “lieu de mémoire” é qualquer entidade significativa que, material ou imaterial por natureza, através da vontade humana ou do desgaste do tempo, se tornou um elemento simbólico da herança memorial de uma comunidade. Acrescentava ainda o historiador francês que, sendo a memória a estrutura fundamental deste processo geralmente demorado, convinha entendê-la como um fenómeno de emoções e magias que apenas acomoda os factos que a alimentam. Em rigor, a memória é sempre vaga, reminiscente, agita tanto impressões gerais quanto finos detalhes simbólicos. Mais ainda, a memória é sempre vulnerável a transferências, recordações reprimidas e imaginadas, a censuras e a todo o tipo de projeções. (Nora, 1984). Neste artigo, procuramos perceber que os lugares da memória são também quase sempre o que nos chega, fica e seleciona o passado. A própria reserva onde vivem surge como um locus simbólico ao qual os potiguaras se agarram com todas as suas forças para preservarem o que lhes resta do seu passado.

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