Abstract

A Prova Campinas 2010 foi um trabalho coletivo desafiador. Ao longo dele, fizemos interlocução com práticas cotidianas de ensino que vinham sendo realizadas na rede municipal de ensino de Campinas, bem como com os pensamentos de três destacados filósofos – Friedrich Nietzsche, Ludwig Wittgenstein e Jacques Derrida -, com o propósito de gerar dados que nos permitissem problematizar a educação escolar e as formas habituais de avaliação da aprendizagem nesse contexto. Neste artigo, apresentamos, em linhas gerais, o conjunto de ideias que potencializou os processos de concepção, elaboração e correção da prova, bem como o seu contexto de realização. A apresentação dessas ideias constitui o pano de fundo para o comentário analítico comparativo que nós faremos acerca dos modos como os estudantes que participaram da prova lidam com questões que lhes solicitam fazer usos preponderantemente normativos da linguagem – tais como os que são feitos, dentre outros, pela matemática acadêmica e escolar – e com usos preponderantemente alegóricos da linguagem, tais como os que são feitos, dentre outros, pelas diferentes modalidades de artes.

Highlights

  • Embora existam atualmente avaliações já estabelecidas e em uso nas escolas públicas, a SME/Campinas optou pela elaboração de seu próprio processo de avaliação de desempenho, evitando a utilização de matrizes gerais e externas que poderiam não corresponder ao que a rede escolar do município vinha realizando como prática cotidiana5

  • Ambas as provas apresentaram distinções importantes em relação a todas as outras avaliações em larga escala que atualmente circulam pela escola: a) em vez de

  • Constatamos que a percepção da necessidade de se recorrer ao estilo gramatical, na autogestão corporal de usos preponderantemente normativos da linguagem, se mostra pouco frequente, fato este que pode ser constatado pelo recorrente acionamento, pelas crianças, não só em textos alegóricos, mas também em textos normativos, do estilo da pintura e de suas nem sempre permissíveis estratégias mimético-analógicas de fuga dos contextos de atividade humana referidos nos textos da prova a outros contextos de atividade por elas vivenciados ou simplesmente imaginados

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Summary

Sobre práticas e o caráter indisciplinar das práticas

Longe de qualquer arbitrariedade ou artificialidade, a possibilidade e legitimidade de se mobilizar as palavras matemática, arte e educação como conjuntos de práticas culturais baseiam-se em rastros de significação de práticas culturais análogas, e muitas vezes homônimas, realizadas por comunidades diversas de outros tempos e de outros lugares. O Texto 3 do Caderno 1, que mobiliza a imagem de um mapa rodoviário das ruas do centro de Campinas - fazendo usos da linguagem por nós definidos como simultaneamente normativo, imagético e informativo –, foi o que apresentou maior dificuldade para as crianças relativamente a usos normativos da linguagem: os desempenhos médios, no universo restrito, em respostas consideradas adequadas, relativos aos itens c e b, foram, respectivamente 2,3% e 2,8%. Analogamente, quando outra dessas crianças diz que “não dá para ir apé porquê o cruzamento A está muito longe do cruzamento B”, a estratégia de fuga de uso descritivo da linguagem que ela aciona, ainda que mediada pelo mapa, parece justificar-se com base na legitimidade que ela atribui ao critério do cansaço físico advindo de se percorrer uma distância por ela considerada longa, critério este que funciona como uma norma mais forte do que a de se fazer um uso descritivo da linguagem solicitado pelo comando textual desse item da prova. Essa atipicidade diz respeito ao fato de as práticas escolares mobilizarem mapas como conteúdos disciplinares estáticos que não dialogam com diferentes práticas culturais indisciplinares que os mobilizam em diferentes campos e contextos de atividade humana, tais como, por exemplo, os campos da navegação marítima e aérea, dentre inúmeros outros

Gramaticalizar o estilo da pintura ou pintar o estilo gramatical?
Referências Bibliográficas
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