Abstract
O artigo analisa o encontro singular entre a cosmografia Sateré-Mawé e as políticas sociais do Estado brasileiro, em particular o Programa de Transferência Condicional de Renda. Os Sateré-Mawé têm como principais modalidades de relações com a natureza, uma considerada pouco exigente, que opera num sistema de operações simples, ativadas principalmente no contexto da aquisição/extração de recursos do ambiente. Tal modalidade coexiste com um regime exigente, caracterizado pelas obrigações e responsabilidades da pessoa adulta, capaz de dominar os processos produtivos que garantem sua capacidade de agência e existência. Os programas de transferências de renda criam sua própria ecologia política, contribuindo para erodir a autonomia ontológica Sateré-Mawé e para fortalecer o consumo incondicional que não potencializa as capacidades necessárias à replicação dos processos produtivos. A desvalorização das práticas de subsistência que, para além da reprodução física dos indivíduos, são também estratégias de construção da vida comunal, estimula um modo de vida sateré-mawé fundado no simples recebimento de bens, esvaziado das dimensões simbólicas, valorativas e auto construtivas da pessoa Sateré-Mawé.
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