Abstract

O presente ensaio apresenta uma releitura de Húmus de Raul Brandão centrada nas problemáticas existenciais que atravessam o mencionado texto, sublinhando o trajeto de modernidade que o mesmo prefigura, articulando-o com temáticas e questionamentos de ordem filosófico-antropológica que o século XX desenvolveria. Assim, o pendor metafísico da obra desdobra um conjunto de intuições próprias das filosofias ditas da existência, radicando na ambígua relação com o divino, gerando o pressentimento de uma angústia existencial que implica uma autoexigência de configuração de um sentido que oblitere ou supere a consciência agónica do tempo, sentido que a relação erótica (não) concretizaria. A fragmentação textual, a propensão repetitiva e circular da narrativa, a presentificação, a polifonia, as dilações e omissões discursivas constituem estratégias textuais de desafio à lógica destrutiva do tempo linear tendente ao nada que esta ordem metafísica instaura. O dito desafio, sendo invariavelmente fracassado, acaba ainda assim por derivar numa proposta ética da resiliência face à morte, da elevação da vida como valor, que justifica o cunho pré-existencialista de Raul Brandão e dá o tom da sua modernidade.

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