Abstract

A partir de 1870 Portugal transferiu da metrópole para o ultramar um ambicioso programa de obras públicas influenciado pelas promessas saint‑simonistasde progresso e criação de civilizações de circulação, com as quais os engenheiros portugueses haviam contactado desde a década de 1820. Até às vésperas da I Guerra Mundial, milhares de quilómetros de linhas foram assentes através daqueles territórios, ligando‑os a portos vizinhos. O objetivo dos tecnocratas nacionais passava por fomentar a exploração colonial e aumentar o seu comércio externo, mas ao mesmo tempo, induzir um nacionalismo baseado na tecnologia e cimentar a soberania nacional nos seus domínios ultramarinos, cobiçados, na altura, por outras nações europeias mais poderosas. Neste artigo,proponho analisar esta retórica contraditória e estas infraestruturas coloniais como portais de globalização, entendidos como “aqueles lugares que têm sido centros de trocas mundiais ou comunicações globais, têm servido como pontos de entrada para transferências culturais e onde se desenvolveram instituições e práticas para lidar com as ligações globais”. Focar‑me‑ei em três momentos decisivos deste processe histórico (o processo de tomada de decisão, a construção e a operação) para analisar até que ponto a globalização (do comércio, know‑how e ideias) foi fomentada ou restringida.

Highlights

  • From the 1870s onwards, Portugal transferred from the mainland to its colonies an ambitious public works programme, influenced by the saint‐­simonianist promises of progress and creation of civilizations of circulation that Portuguese engineers contacted since the 1820s

  • Until the eve of World War I, thousands of miles of railway track were laid across these territories, connecting them to neighbouring harbours

  • The goal sought by the Portuguese technocrats was to develop the colonies output and to increase foreign trade, but at the same time enhance a technologically­‐based nationalism and ascertain the Portuguese sovereignty in the overseas domains, coveted at the time by other, more powerful, European nations

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Summary

Introdução

A partir de meados da década de 1870, Portugal transferiu o programa de desenvolvimento material do Fontismo para as suas colónias[1]. O primeiro projeto assente neste binómio foi gizado para o enclave de Goa. Em 1881, o governo adjudicou à West of India Portuguese Guaranteed Railway Company a construção e operação de um porto na baía de Mormugão e de um caminho de ferro ligando­‐o à fronteira com o país do Mahratta Sul, na Índia Britânica, que necessitava de uma saída marítima mais próxima que Bombaim. Analiso a política porto­‐ferroviária nacional desde as primeiras missões de obras públicas realizadas no ultramar até ao início da I Guerra Mundial, evento que desorganizou as estruturas de transporte existentes e iniciou um novo paradigma para o setor. 78; Portugal, Direcção dos serviços dos portos, caminhos de ferro e transportes, Porto e caminhos de ferro da Beira, Lourenço Marques, Empresa Moderna, 1971, p.

Portais de globalização
A construção como portal de globalização
A operação
Conclusão
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