Abstract
Pretende-se, neste artigo, pensar a ficção através do ensaio e o ensaio através da ficção, partindo do macrotexto de Jean-Jacques Rousseau e das complexas confl uências criadas entre textos políticos, textos filosófi- cos, textos autobiográficos e ficcionais/epistolares. Do confronto dessas diversas modalidades de escrita, e do modo experimental (utópico) como dialogam formal e ideologicamente entre si, decorre uma interrogação sobre os conceitos de intermitência/intervalo/fronteira, convocados na teoria do ensaio e na teoria da ficção, de Montaigne a Rousseau, de ambos à contemporaneadade.
Highlights
382 | MARTA TEIXEIRA ANACLETO examine the concepts of intermittences/intervals/borders, set forth by the theories of essay and fictional writing, from Montaigne to Rousseau, and to the current day
Pois, ser legítimo pensar as clivagens, confluências (e intermitências) epistemológicas que se erguem entre ensaio e ficção, tendo como pretexto argumentativo a deriva poética e ficcional que conduz Rousseau, hipotético ensaísta-romancista situado entre Montaigne e Valéry, a combinar quase obsessivamente as diferentes escritas que pratica nos diferentes textos, assumindo, aí também, o paradoxo que confessa caraterizá-lo, em Emile: “Lecteurs vulgaires, pardonnez-moi mes paradoxes: il en faut faire quand on réfléchit; et, quoi que vous puissiez dire, j’aime mieux être homme à paradoxes qu’homme à préjugés.” (Rousseau, 2002: 59)
Mas impõe também a suspensão dos tempos, pela fixação da memória no diário íntimo, pelo refúgio crepuscular na solidão, dito na abertura da primeira Promenade, quando o tempo parece ser uma quimera – “Me voici donc seul sur la terre, n’ayant plus de frère, de prochain, d’ami, de société que moi-même.” (Rousseau, 1997: 55)
Summary
A legitimidade de pensar o ensaio e a ficção, a partir do argumento da experimentação da escrita ou da deriva poética (e utópica) em JeanJacques Rousseau, decorre do estímulo das interrogações constantes que a leitura progressiva dos textos ficcionais do filósofo suscita e da hipótese teórica de que essa inquietude se pode vir a cruzar com a própria ontologia do ensaio, isto é, com a articulação particular de uma escrita e de uma epistemologia associada a um movimento de intermitência (Langlet, 2016). Aliás, a frivolidade do assunto – que se traduz, teoricamente, em processos de hibridação relacionados com o livre discurso reflexivo que carateriza a forma –,2 o caráter vão da matéria dos livros, pressupõe subliminarmente um método de experimentação constante, de prática da intermitência (e nesse método, a intervenção da ficção). Pois, ser legítimo pensar as clivagens, confluências (e intermitências) epistemológicas que se erguem entre ensaio e ficção, tendo como pretexto argumentativo a deriva poética e ficcional que conduz Rousseau, hipotético ensaísta-romancista situado entre Montaigne e Valéry, a combinar quase obsessivamente as diferentes escritas que pratica nos diferentes textos (tratados, autobiografia, romance), assumindo, aí também, o paradoxo que confessa caraterizá-lo, em Emile: “Lecteurs vulgaires, pardonnez-moi mes paradoxes: il en faut faire quand on réfléchit; et, quoi que vous puissiez dire, j’aime mieux être homme à paradoxes qu’homme à préjugés.” (Rousseau, 2002: 59). Traliza, em última instância, a atitude utópica da escrita e da leitura ensaísticas, da escrita e da leitura ficcionais
Talk to us
Join us for a 30 min session where you can share your feedback and ask us any queries you have
Similar Papers
Disclaimer: All third-party content on this website/platform is and will remain the property of their respective owners and is provided on "as is" basis without any warranties, express or implied. Use of third-party content does not indicate any affiliation, sponsorship with or endorsement by them. Any references to third-party content is to identify the corresponding services and shall be considered fair use under The CopyrightLaw.