Abstract
A partir da prosopografia comparada de duas amostras de professores de letras e de ciências das universidades de Paris e Berlim durante o mesmo período, este estudo situa essas duas elites universitárias em suas respectivas sociedades. A comparação das origens sociais dos professores e da sua evolução, do recrutamento geográfico, da formação escolar, e das dinâmicas de carreira permite apreender dois modelos bastante diferentes de meritocracia e dois processos distintos de evolução das comunidades universitárias. A centralização e a seleção elitista na França não impedem certa abertura social, ao passo que a descentralização e a inexistência de concursos formais continuam favorecendo os mesmos grupos dominantes na Alemanha. Apesar das intenções oficiais, evidencia-se a incapacidade de implantar o modelo germânico na França e, na Alemanha, de modernizar e democratizar o quadro de professores, mesmo com as tentativas da República de Weimar. As tensões crescentes que afetam os dois sistemas no período entre guerras, e as orientações sociais e políticas dominantes que opõem os dois grupos de professores, não podem ser, no entanto, reduzidas a um denominador comum de “crise”, ao contrário são a prova das especificidades constitutivas de cada modelo universitário. Para além dos resultados empíricos, este artigo pretende defender a fecundidade heurística da combinação entre o método comparativo e a biografia social em escala europeia.
Highlights
Como sinônimo da abertura relativa das elites universitárias, já que a Faculdade de Filosofia na Alemanha e as Faculdades de Letras e de Ciências na França ocupam uma posição homologamente intermediaria e/ou dominada no conjunto do sistema universitário e, mais globalmente, no campo das elites sociais
Igualmente, meu estudo diacrônico e temático sobre a amostra francesa evidenciou diferenças sistemáticas entre as faculdades de letras e de ciências, bem como uma abertura social real, mas tardia, do recrutamento, e em ritmos variados segundo as faculdades
Como já demonstramos em outros estudos, com exceção das ciências no período recente e dos grandes estabelecimentos (CHARLE, 1987, p. 339-341; CHARLE, 1988), a permanência das dinastias universitárias na França, índice ao mesmo tempo de forte espírito de corpo, de autocontrole do recrutamento e da consciência de ocupar uma posição de elite que não tem nada a invejar das outras, é um fenômeno marginal, enquanto na Alemanha, e principalmente em Berlim, ela resiste às transformações morfológicas
Summary
O segundo elemento que pesa em favor da comparação é a similar relevância demográfica das duas populações analisadas. A amostra alemã que serve de base para este estudo é composta de 74 professores ordinários das disciplinas científicas e de 110 das disciplinas literárias, todos pertencendo à Faculdade de Filosofia da Universidade de Berlim, entre 1870 e 1933. Esse paradoxo se explica de duas formas: a inflação do estrato dos professores não catedráticos na Alemanha; a inexistência de separação entre as letras e as ciências, prejudicial à criação de cátedras científicas, uma vez que a maioria literária aumenta inconscientemente seu domínio; e enfim, a criação de estabelecimentos paralelos nos domínios científicos e tecnológicos: Technische Hochschule, de Charlottenburg, Landwirtschaftlische Hochschule, Physkalische-Technische Reichsanstalt, Kaiser-Wilhelm Gesellschaft, cujos institutos foram implantados em Dahlem a partir de 1911. Tabela 1 – Evolução do número de cátedras literárias e científicas (professores ordinários) da Faculdade de Filosofia de Berlim
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