Abstract

RESUMO A palavra cantada apresenta frequentemente construções anômalas do ponto de vista prosódico. Tudo indica que tais construções não podem ser descritas exclusivamente pelo ambiente linguístico em que ocorrem. A excepcionalidade dessas construções se manifesta na realização de processos fonológicos em ambientes nos quais tais processos seriam bloqueados e, reciprocamente, em seu bloqueio em ambientes nos quais seria esperada a sua realização. O objetivo do presente trabalho é descrever esse comportamento divergente da palavra cantada com relação à palavra falada. Inicialmente apresentaremos exemplos que ilustram a dimensão e a generalidade do problema. Em seguida argumentaremos que a excepcionalidade constatada pode ser explicada se assumirmos a hipótese de que a relação entre texto e melodia na palavra cantada é determinada por condições de boa formação. Uma dessas condições, que denominamos Pareamento Métrico, estabelece que a relação entre nota e sílaba é sempre bijetiva, ou seja (I) toda e qualquer nota de uma melodia deve ser pareada a uma e apenas uma única sílaba, e (II) toda e qualquer sílaba de uma cadeia deve ser pareada a uma e apenas uma única nota. A observância dessa condição de boa formação explica tanto a realização quanto o bloqueio de processos fonológicos em divergência com a fonologia do português falado.

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