O turista aprendiz no Nordeste e as rachaduras do sistema patriarcal: estudo das crônicas "O grande cearense" e "Tempos de dantes", de Mário de Andrade

Fernando De Moraes Gebra

doi:10.15448/1984-4301.2014.2.17906

Abstract

This article comes as a response to the following question: How did Mario de Andrade focus Brazilian culture and socioeconomic relations in his travel chronicles? The chronicles “O grande cearense” and “Tempo de dantes”, from the book Os filhos da Candinha (1943), are compared in this article with their first releases on the travel journal O turista aprendiz (1976), in which their titles are respectively “Atlantic, December 5” and “Natal, December 17. Mario de Andrade’s travel chronicles, collected in the posthumous book O turista aprendiz, provide a view of the ratification of intersubjective identities (the construction of the self in the relationship with the Other) with national identity through issues relating to socioeconomic and social-affective practices. Traveling allows the tourist to look at the Other, which causes him to question these cultural relations based - on the specific case of these chronicles - on a model of power centralization. It is the patriarchy, understood as a normative and repressive power that determines individual and collective organization in public (labor relations) and private (family environment) dimensions. Both in private and public spheres, social structure is organized around a discourse of power, which legitimates the practices of exclusion of those who do not adapt to this structural model. Thus, the stories analyzed allow an analysis of the patriarchal relations established in public and private dimensions in Brazil in the first decades of the twentieth century.

Highlights

Aprendiz (1976), in which their titles are respectively “Atlantic, December 5” and “Natal, December 17"
This article comes as a response to the following question: How did Mário de Andrade focus Brazilian culture and socioeconomic relations in his travel chronicles? The chronicles “O grande cearense” and “Tempo de dantes”, from the book Os filhos da Candinha (1943), are compared in this article with their first releases on the travel journal O turista
Traveling allows the tourist to look at the Other, which causes him to question these cultural relations based - on the specific case of these chronicles - on a model of power centralization

Summary

Mário de Andrade e a viagem ao Nordeste

Mário de Andrade realizou três grandes viagens pelo Brasil, a fim de conhecer os usos e costumes de seus habitantes. Telê Ancona Lopez esclarece que é muito comum haver mudanças nos projetos de obras de Mário de Andrade, feitas com ampla pesquisa e reunião de material, esboços, rascunhos, que no final acabam sendo transformados em artigos, conferências, ou até mesmo o autor não dá prosseguimento a seu intuito. Das setenta crônicas escritas na viagem ao Nordeste, cinco foram reescritas para Os filhos da Candinha (1943), organizada pelo escritor: “Atlântico, 5 de dezembro, 17 horas”, “Natal, 17 de dezembro”, “Bom Jardim, 8 de janeiro”, “Bom Jardim, 13 de janeiro” e “Paraíba, 4 de fevereiro”, transformadas, com poucas alterações estilísticas, respectivamente, em “O grande cearense”, “Tempo de dantes”, “Bom Jardim”, “Ferreira Itajubá” e “Guaxinim do banhado”. No ensaio “O cronista Mário de Andrade”, publicado na edição de Táxi e crônicas no Diário Nacional, Telê Ancona Lopez comenta que o autor elegeu o critério da diacronia para a publicação das crônicas de Os filhos da Candinha. As crônicas “Atlântico, 5 de dezembro, 17 horas”, “Natal, 17 de dezembro”, ao serem transformadas, respectivamente, em “O grande cearense”, “Tempo de dantes”, apresentam algumas mudanças estilísticas, que comentarei neste artigo, embora o foco da análise se encontre na figuração das relações patriarcais na esfera pública e privada

A Terra Santa e seu patriarca em “O grande cearense”

A permanência do patriarcado em “Tempo de dantes”