Abstract

Movimentos negacionistas vêm ganhando destaque nos últimos anos, disseminados principalmente pelas mídias sociais. A crescente receptividade às suas ideias, assim como a notícias com conteúdos inverídicos, pode ser apontada como indício de uma crise epistemológica relacionada à perda de confiança nas instituições fundamentais da sociedade, na ciência inclusive. As pessoas descrentes nessas instituições tornam-se cada vez mais dependentes das próprias experiências e crenças, até mesmo para avaliar aquilo que se encontra no campo científico. Neste trabalho abordamos uma das características do movimento terraplanista atual: o apelo à experiência pessoal como critério epistemológico incontestável. Para tanto, apoiamo-nos sobretudo nas discussões desenvolvidas por Alfred Schutz relacionadas a formas de experienciar a realidade, seja no campo cotidiano, seja no científico. Identificamos nas concepções terraplanistas modos de caracterização da realidade que são típicos do campo cotidiano, mas acentuados e extrapolados para o contexto científico, em especial para avaliar o formato da Terra e seu movimento. Apresentamos, ainda, exemplos de ideias expressas por adeptos do terraplanismo que apontam para essa direção. Consideramos importante que professores de ciências se apropriem do fenômeno recente da crescente disseminação de movimentos negacionistas e anticientíficos, buscando compreender suas características e discuti-las com estudantes, principalmente sob o ponto de vista epistemológico, esclarecendo seus critérios simplificadores e limitantes.

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