Abstract
Um dos postulados de Benedict Anderson é que se começou a imaginar a nação só quando, entre outras coisas, mudou a concepção do tempo; ou seja, passou-se do "tempo messiânico" (uma simultaneidade do passado e do futuro em um presente instantâneo) ao "tempo homogêneo" (em que a simultaneidade é transversa, de tempo cruzado, não marcada pela prefiguração e pela realização, mas sim pela coincidência temporal, medida pelo relógio e pelo calendário). Neste artigo partiremos dos relatos feitos por camponeses em Las Ovejas (Argentina) sobre quando decidiram contrabandear do Chile uma imagem de São Sebastião e sobre a confusão que fizeram ao acreditar que um guerreiro romano fosse um pastor. Dessa maneira, os camponeses do Alto Neuquén viram um soldado mártir dos começos do cristianismo como um criador de ovelhas, "e como reprodução de si mesmos". Concordamos com Anderson que isto implica uma concepção "não moderna" do tempo, e talvez tampouco do espaço. Do que discordamos, e queremos ressaltar, é que não é necessária uma interpretação linear do tempo para que uma nação possa ser pensada e constituída.
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