Abstract
Considera-se geralmente na literatura que o quantificador universal definido ambos, diferentemente da locução quantificacional equivalente os dois, é quase exclusivamente distributivo, bloqueando leituras grupais, a não ser em contextos muito especiais, como os que envolvem adjuntos instrumentais (ele levantou a caixa com ambas as mãos) e, para alguns falantes apenas, operadores do tipo de mesmo (andam ambos na mesma escola). São geralmente consideradas anómalas frases com expressões predicativas que introduzem alguma forma de grupalidade, como, por exemplo, adjetivos simétricos (andam ambos em escolas diferentes), operadores recíprocos (ambos conversaram um com o outro), adjuntos indutores de grupalidade (ambos fizeram o trabalho em conjunto), predicados quase-divisíveis (ambos uniram esforços) ou predicados indivisíveis (ambas estas parcelas somam 12). Neste trabalho, é avaliado o uso de ambos na variedade padrão contemporânea (principalmente) do português europeu, tendo em conta todos estes contextos críticos. A observação de dados de texto jornalístico contemporâneo e de texto literário (dos últimos 500 anos) e o resultado de um inquérito a 20 falantes nativos (especialistas em Linguística) mostram que se trata de uma área de variação linguística excecionalmente intensa, onde se observam também indícios de mudança linguística significativa.
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