Abstract

O jornalismo foi, durante décadas, uma profissão para a qual não existia nenhuma preparação específica, do ponto de vista académico: implicava, antes, certas apetências, um gosto e curiosidade particulares pela escrita ou, mais comum ainda, era um trabalho de promoção e de autopromoção. Atualmente, uma considerável parte da discussão sobre o ensino universitário do Jornalismo foca-se, sobretudo, em aspetos que dizem respeito, por um lado, à eterna querela entre prática e teoria e, por outro lado, à necessidade de adaptação tecnológica dos curricula, a fim de responderem à vertiginosa velocidade de mudança das tecnologias da comunicação. Partindo do conhecimento dos curricula dos cursos universitários de Jornalismo, tentaremos problematizar, neste artigo, a importância crucial das Humanidades para a formação superior dos jornalistas, sobretudo num tempo de indefinições e de imperialismo tecnológico, em que certos grupos sociais, por vezes com grandes responsabilidades, tentam fazer passar a mensagem, perversa em nosso entender, de que o aparato técnico dos curricula e as capacidades tecnológicas são as condições indispensáveis para uma formação atualizada, global e digna do século XXI. Neste sentido, e inspirando-nos na exortação de Stephens (2010), pretendemos sustentar a ideia de que aprender Literatura, ler os grandes autores clássicos e contemporâneos, conhecer as especificidades da linguagem literária como tipo específico e particular de escrita, problematizar as visões do mundo imaginadas por romancistas, dramaturgos e poetas, contactar com a dimensão cultural e simbólica da obra de arte literária são competências que uma formação universitária em Jornalismo deveria promover. Sustentamos esta tese em três ordens de razões fundamentais, para já enunciadas de forma sintética: uma ordem histórica, que permite problematizar as relações entre jornalismo e literatura à luz da diacronia; uma ordem a que chamaremos de discursiva, que nos conduzirá à reflexão sobre a especificidade de ambas as linguagens e ao alcance social de ambos os discursos; e uma ordem cultural que permite entender o jornalismo, mais do que uma prática profissional específica, como uma importante dimensão das sociedades contemporâneas e dos seus processos de construção.

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