Abstract
Pretende-se com este artigo demonstrar a alteração do paradigma artístico ocorrida no século XVI, ao qual subjaz a vasta literatura produzida em conformidade. No dealbar de Quinhentos a imagem adquire um novo estatuto fundado sobre a nova concepção da forma, ao mesmo tempo que se opera, sob o signo da beleza na qual se objectiva a nova subjectividade, um distanciamento que rejeita o realismo mais directo do Quattrocento. Para isso contribuiu, de modo decisivo, o recrudecimento do Neoplatonismo e a formulação de uma nova Teoria da Arte, que encontra na obra (artística e poética) de Miguel Ângelo um dos seus pilares, e à qual deu voz em forma de letra Francisco de Holanda, não obstante a pouca difusão dos seus tratados. De acordo com a nova corrente ideológica, os valores da matéria, base de uma cultura fundada sobre a proeminência do objecto, deixam espaço à afirmação de um certo ideal aristocrático que privilegia a diferenciação individual, assim como o regresso em força do imaginário e da afectividade, contrariando o racionalismo exacerbado do classicismo quatrocentista. A estética dominante no Cinquecento, ao afirmar o seu carácter ideal e subjectivo, confere um novo sentido à imagem que será expressão da enfatização estilística atribuída à plasticidade volumétrica e composição espacial.
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