Abstract

Na segunda metade do século XIX alguns médicos do Corpo de Saúde da Armada brasileira redigiram relatórios a respeito das viagens que haviam participado em navios da Marinha do Brasil. Além de apresentar a descrição dos aspectos nosológicos das tripulações durante as viagens, os cirurgiões da Armada expunham suas convicções médicas a respeito do modo ideal de manutenção da saúde dos militares diante das variadas adversidades impostas aos homens do mar quando em viagem. Tal atuação punha em destaque a importância do saber médico e o legitimava na instituição, tornando os médicos mais que sujeitos que se devotavam à cura, pois também possuiriam em seu repertório o controle dos corpos do pessoal da Marinha com vistas à maximização de seu desempenho a bordo. Dentre os diversos aspectos tratados em tais relatórios a respeito de práticas e comportamentos que possibilitariam saúde física e moral aos tripulantes, estava o consumo de bebidas alcoólicas, em especial a aguardente. Advogava-se que o moderado consumo da cachaça pelos homens do mar ante o trabalho exaustivo a que estavam expostos seria salutar, na medida em que sua composição era estimulante e reanimadora, além de necessária para o organismo em climas mais frios. Não obstante, tal elogio à cachaça não se tratava de uma ode ao prazer ou à sociabilidade, mas sim um discurso que dava ao médico o controle a respeito de tal consumo, prescrevendo a quantidade e o momento em que a “bebida espirituosa” deveria ser usada. Tendo por mote teórico as abordagens da normatização dos corpos dos indivíduos e da ascensão do saber médico, este artigo discutirá o enfoque dado por cirurgiões da Armada brasileira ao consumo da aguardente pelos militares da Marinha no século XIX.

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