Abstract

O romance A Casa Eterna é aqui lido como uma indagação do que significa ser poeta e viver em poesia. Indo além do mero alinhar de testemunhos sobre o que foi o percurso de vida do protagonista, a narradora procura atingir o móbil oculto e todo-poderoso da criação poética. Rico em refl exões metaliterárias e metalinguísticas, o romance estabelece relações de intertextualidade com grandes obras da Antiguidade Clássica, da literatura portuguesa, da literatura alemã e com uma novela posterior da própria autora.

Highlights

  • Os testemunhos recolhidos pela narradora, muitas vezes prestados por informantes de fiabilidade duvidosa e com uma visão necessariamente restrita, são parciais, incompletos e de veracidade incomprovada, não indo muitas vezes além dos boatos correntes na terra, certamente moldados pela imaginação de cada um.[3]

  • O levantamento de um universo fortemente marcado por castas de fronteiras bem definidas entre si,[5] a mestria no traçado de tipos afidalgados e populares deste mundo não urbano português, a finura psicológica e o desassombro na desocultação de aspetos pouco nobres do carácter e comportamento de muitas destas figuras ou, ainda, a crueza na descrição de malformações ou de marcas de fealdade,[6] remetem certamente para o universo de Agustina, que, aliás, Hélia Correia aponta como uma das suas leituras de referência.[7]

  • E é neste sentido que, julgo, o título da obra desenvolve as suas mais plenas significações: a casa eterna, como sugere a epígrafe do Eclesiastes (Cap. XII) que Hélia Correia antepõe ao seu romance, é o destino último do percurso do homem sobre a terra, aqui num regresso ao silêncio do mundo primordial

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Summary

Introduction

Para a menina pouco culta que Filomena fora e para a senhora consumidora de telenovelas que ela agora é, o mito de Ulisses desce ao nível de uma história trivial, transmitida em folhetins: um homem bonito quer regressar a casa, mas é impedido por mulheres, todas com um estatuto fantástico – bruxas, rainhas, sereias – e, como é próprio da literatura de consumo, repartidas a preto e branco, em grupos de boas e de más.

Results
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