Abstract

Em 2019, Anne Boyer publica The Undying, um livro de memórias da sua experiência como paciente com cancro da mama. A sua representação da doença é densa em metáforas: as imagens empregadas abrangem desde a biologia até ao domínio do textual. Este artigo pretende discutir as metáforas em relação à escrita autobiográfica da doença em duas direções complementares. Por um lado, as metáforas são formas de reescrita, traduzindo narrativas emocionais e subjetivas em objetos culturais. Nesse quadro, a linguagem funciona como uma ferramenta de tradução na complexidade dos significados possíveis, capaz de unir a experiência privada e a partilha pública. Por outro lado, a lacuna que subsiste entre a experiência individual e o espaço coletivo de discussão pode levar a consequências prejudiciais em termos sociopolíticos. Essa é a posição defendida por Susan Sontag, que aborda em dois ensaios três doenças (tuberculose, câncer e HIV/SIDA) ao longo de dois séculos e os impactos nocivos que o discurso metafórico trouxe tanto para os pacientes como para a sociedade civil. Este artigo aborda tanto a interdependência entre memória autobiográfica, metáforas e doença como as implicações dum fenómeno subjetivo e social. A discussão teórica é seguida por uma análise próxima aos textos supracitados de Boyer e Sontag.

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