O acontecimento linguístico da redação modelo ENEM: impactos na produção textual do Ensino Médio brasileiro

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Neste trabalho, há um levantamento histórico das mudanças políticas e sociais ocorridas no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e os impactos que elas trouxeram para a escrita dos alunos nos anos finais da Educação Básica, convergindo – ou não – para os prescritos tanto na Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2018) quanto nos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (BRASIL, 2000). As alterações no número de questões, no tempo de prova, na função da avaliação e a quase universalização do exame como principal meio de entrada nas faculdades nacionais influenciaram as condições de produção do discurso (PÊCHEUX, 1997 [1975]), as quais permitiram que estratégias de enrijecimento e padronização da escrita fossem não só viáveis como também rendáveis. A fim de analisar tal movimento de estruturação do texto, a História das Ideias Linguísticas e a Análise do Discurso foram utilizadas como arcabouço teórico lançado sobre o arquivo (ORLANDI, 2001) de análise, que são espelhos de redações do ENEM (BRASIL, 2012; 2017), inicialmente, das edições de 2011 a 2016. Por meio da comparação linguístico-discursiva das redações exemplares que circulam na internet com as nota 1000 liberadas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) – órgão responsável pela elaboração, aplicação e avaliação do ENEM –, foram identificados casos que poderiam ser considerados como plágio, mas que não foram penalizados, ao contrário, foram bonificados com a pontuação máxima no vestibular. Para mensurar a trajetória de construção da chamada “Redação Modelo ENEM” – que propulsionou a criação de estruturas-padrão a serem reproduzidas em qualquer tema desse vestibular – foram evocados os conceitos de acontecimento (MARIANI, 1996), acontecimento linguístico (ZOPPI FONTANA, 2009), “pega” (MORFINO, 2006) e gramatização (AUROUX, 1992), além do materialismo do encontro (ALTHUSSER, 2005).