Abstract

Tendo como pano de fundo as transformações histórico-conceptuais sofridas pelo conceito de “mentira”, bem como a sua relação com o de “verdade” e, sobretudo, com o de “veracidade”, pretende-se salientar que a mendacidade, sobretudo na sua versão mais intencional, só será desconstruída se, entretanto, for comprovadamente des-mentida pela confissão do mentiroso, ou pelo juízo crítico e investigador de outros, e sublinhar que a história entre ambas é indissociável dos confl itos que nasceram (e nascem) do viver em comum e da linguagem que o institui. Simultaneamente, também se procurará mostrar que, ao nível dos efeitos públicos, a luta pela veracidade (incluindo pela verdade de facto) é bem mais difícil do que a adesão pística à mentira travestida de verdade.

Highlights

  • RESUMO Tendo como pano de fundo as transformações histórico-conceptuais sofridas pelo conceito de “mentira”, bem como a sua relação com o de “verdade” e, sobretudo, com o de “veracidade”, pretende-se salientar que a mendacidade, sobretudo na sua versão mais intencional, só será desconstruída se, entretanto, for comprovadamente des-mentida pela confissão do mentiroso, ou pelo juízo crítico e investigador de outros, e sublinhar que a história entre ambas é indissociável dos conflitos que nasceram (e nascem) do viver em comum e da linguagem que o institui

  • Drawing from the conceptual-historical transformations endured by the concept of the “lie”, as well as its relationship with that of “truth” and especially with that of “veracity”, this article aims to examine the construction

  • Of lying as a relevant, historiographic act, especially in its more intentional version, that will only be deconstructed if it is dully belied by the confession of the mendacious, or by the investigating and critical judgement of others

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Summary

A MENTIRA COMO INTENÇÃO CONSCIENTE DE NÃO DIZER A

Contra a opinião de muitos dos primeiros padres da Igreja, como Cassiano, Clemente de Alexandria, Orígenes e João Crisóstomo, ganhou força a tese que vê a mentira como o resultado de uma ação consciente e voluntária, corrente que, vindo de Santo Agostinho, passou, entre outros, por Rousseau, Montaigne, Kant, Jacques Derrida. Pode afirmar-se um erro sem mentir, se quem o anuncia pensa que é como disse, e pode dizer-se uma verdade mentindo, se quem a expressa pensa que é uma falsidade e quer fazer passá-la por verdade, ainda que efetivamente não seja” (Santo Agostinho, De mendacio: III, 03). Em diálogo com Santo Agostinho, a mendacidade não é um facto, ou um estado; é um ato intencional, é um mentir que implica uma atitude mental de alteridade, porque, em última análise, o seu enunciador dirige-se a si mesmo como se o seu eu fosse simultaneamente um outrem; pelo que não se pode mentir a si mesmo, a não ser a si mesmo enquanto outro (Derrida, 1996: 9, e 2012). E só a história do verdadeiro pode dizer algo sobre o porquê de quem mente e, ao nível da receção, de quem acreditou na mentira como verdade

A MENTIRA COMO CRIADORA DE MUNDOS
A MASSIFICAÇÃO DA MENTIRA
A MENTIRA E A IDEOLOGIA DOS FACTOS
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