Abstract

Este artigo propõe uma leitura semiótica da relação entre memória e identidade através da análise de uma cena da segunda temporada da série True Detective (HBO, 2015). Buscamos entender como o processo de rememoração – neste caso, desencadeado pela presença de uma mancha no teto do quarto do protagonista – revela a jornada do self, dentro do contexto da produção audivisual contemporânea, no qual as narrativas da identidade ganharam destaque. Para isso, nos apoiamos na exegese do signo icônico peirceano feita por Ransdell (1997), e no trabalho de Andacht e Michel (2005) a respeito do self semiótico. A partir de um exemplo ficcional, procuramos demonstrar que a identidade enquanto um processo autointerpretativo está baseada na semiose, e que o exercício da narração da própria vida, o qual só pode ser feito a partir de lembranças, produz a geração presente dos seus signos.

Highlights

  • Memória e identidadeLonge dos cenários distópicos e dos embates em torno da questão da consciência que opõe a natureza humana à da máquina, nesta análise abordaremos um processo narrativo desencadeado pela recordação, centrado num discurso do sujeito moderno em conflito com sua identidade, numa narrativa situada em uma cidade fictícia dos EUA, na atualidade.

  • Se para Agostinho o presente é a mediação entre o pretérito e o futuro, para Peirce (conforme modelo apresentado por Wiley; Andacht 2005), a identidade se forma a partir de uma relação triádica que envolve um “eu passado”, um “eu presente” (mediador), e um “eu futuro” (sua síntese provisória).

  • Resguardadas suas diferenças, ambos os pensadores compartilham o entendimento do exercício da memória enquanto um ato de produção de significado que opera uma união de três tempos, e desta maneira se manifesta como um processo contínuo constituidor de nossa identidade (Andacht, Michel 2005), que, portanto, não deixa de crescer em complexidade ao longo da vida.

Read more

Summary

Memória e identidade

Longe dos cenários distópicos e dos embates em torno da questão da consciência que opõe a natureza humana à da máquina, nesta análise abordaremos um processo narrativo desencadeado pela recordação, centrado num discurso do sujeito moderno em conflito com sua identidade, numa narrativa situada em uma cidade fictícia dos EUA, na atualidade. Se para Agostinho o presente é a mediação entre o pretérito e o futuro, para Peirce (conforme modelo apresentado por Wiley; Andacht 2005), a identidade se forma a partir de uma relação triádica que envolve um “eu passado”, um “eu presente” (mediador), e um “eu futuro” (sua síntese provisória). Resguardadas suas diferenças, ambos os pensadores compartilham o entendimento do exercício da memória enquanto um ato de produção de significado que opera uma união de três tempos, e desta maneira se manifesta como um processo contínuo constituidor de nossa identidade (Andacht, Michel 2005), que, portanto, não deixa de crescer em complexidade ao longo da vida. Antes de entrarmos propriamente na sua análise, será necessário alinhar alguns princípios teóricos que embasam nosso trabalho

Self e Semiose em Peirce
Navegando na corrente semiótica ao encontro da noite imaginada
Full Text
Paper version not known

Talk to us

Join us for a 30 min session where you can share your feedback and ask us any queries you have

Schedule a call

Disclaimer: All third-party content on this website/platform is and will remain the property of their respective owners and is provided on "as is" basis without any warranties, express or implied. Use of third-party content does not indicate any affiliation, sponsorship with or endorsement by them. Any references to third-party content is to identify the corresponding services and shall be considered fair use under The CopyrightLaw.