Abstract

Os média noticiosos tradicionais atuam enquanto dispositivos de seleção, configuração narrativa e difusão dos acontecimentos. A par do poder da narrativa na estruturação do tempo e da experiência, pode considerar-se que a seleção pelos média do que se entende marcar o presente e o passado constitui um mecanismo de construção da memória social. Nessa medida, os média "fazem história", entrando no terreno da historiografia, e "fazem memória", participando e intervindo no processo de construção da memória coletiva. Porém, os média digitais, enquanto dispositivos caracterizados pela instantaneidade, velocidade, retenção e propagação de imagens e mensagens, introduzem novas possibilidades de comunicação, divulgação e arquivo, alterando, simultaneamente, as relações ao espaço e ao tempo. Interessa- nos interrogar se, uns e outros, média tradicionais e média digitais, de modos distintos, concorrem para a construção da memória coletiva ou, contrariamente, para o seu enfraquecimento, já que as novas tecnologias de informação e comunicação desenvolvem possibilidades ilimitadas de disseminação, de arquivo e de memória técnica, mas também desmaterializam e destemporalizam. Nessa medida, importa indagar se as relações ao tempo, ao lugar e à memória, estão em vias de sofrer alterações.Para compreender como os média tradicionais e as novas tecnologias digitais intervêm na construção da memória, começa por esboçar-se um ponto de vista sobre uma fenomenologia e uma pragmática da memória, passando à questão da memória coletiva e da relação entre a história e a memória, para aplicar este questionamento às relações entre acontecimento, média e arquivo, à tecnicidade da memória, e às novas relações ao tempo e ao lugar nas redes.

Highlights

  • Traditional media work as devices of selection, narrative configuration and dissemination of events

  • As the power of narrative in the structuring of time and experience, it can be said that the selection by media of what we intend to mark in the present and in the past is a mechanism for the construction of social memory

  • We are interested in inquiring whether traditional and digital media contributes to the construction of collective memory or, on the contrary, to their deterioration, since the new information and communication technologies have unlimited possibilities of dissemination, archival and technical memory, as well as dematerialization and timelessness

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Summary

Fenomenologia e pragmática da memória

O ato de se lembrar ou evocar (mnémo) produz-se logo que o tempo passou. Há uma distinção entre mnémé, que significa evocação ou simples presença da lembrança, e anamnésis, que supõe procura ou esforço de lembrança. Assim, uma dimensão pragmática da memória, pois lembrar-se ou recordar-se é acolher, receber uma imagem do passado, procurá-la, “fazer” qualquer coisa, como assinala Ricoeur (2000: 67); é declarar que se viu, fez, alcançou isto ou aquilo. Enquanto Platão fala da mimética icónica (eikón – representação), abrindo lugar às “técnicas imitativas”, numa abordagem que se dirá de cariz cognitivo, Aristóteles, por seu lado, descreve a lembrança como uma mnémé - afeção (pathos) e a anamnésis como a procura, a recordação, da qual decorre a dimensão pragmática. Uma pragmática da memória vincula-se à lembrança como uma afeção (mnémé - pathos) e à anamnésis como procura e recordação, ou seja, ao esforço de memória ou ao trabalho de rememoração (Bergson falava do esforço de memória e Freud do trabalho de rememoração). Então, a ligação entre a história e a memória, começando pela memória coletiva para, de seguida, passarmos à história e, depois, colocarmos a questão da notícia, dos média e do arquivo

A memória coletiva
História e memória
Redes digitais e presente contínuo
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