Abstract

No momento de sua trajetória em que se dedica prioritariamente ao cinema, Marguerite Duras propõe, em um livro elaborado a partir de entrevistas com Michelle Porte, Les Lieux de Marguerite Duras (1977), uma série de figuras que, à maneira do que Gaston Bachelard (2001b) chamou de “imaginação material”, formam o que poderíamos identificar como uma mitologia pessoal da autora. Esse conjunto de signos-imagens reaparece com relativa estabilidade ao longo de sua obra, o que permite a Duras referir-se a obras de sua autoria bastante distantes temporalmente, mas com elementos em comum aos quais ela busca dar uma formulação. Nesse contexto, a invenção mítica da escrita feminina relaciona-se com noções como a música e a loucura, que se mostram como paradigmas imaginários de uma poética da porosidade. Uma leitura cerrada desse livro de Duras e Porte permitirá revelar a trama conceitual que atravessa essas formula-ções e iluminar aspectos centrais da poética literária, teatral e fílmica de Duras.

Highlights

  • In a book elaborated from interviews given by Marguerite Duras to Michelle Porte, Les Lieux de Marguerite Duras (1977), published in a moment of Duras’s trajectory in which she is mainly dedicated to making films, the French author proposes a series of figures that constitute a kind of a personal mythology, in a process that can be recognized as similar to what Gaston Bachelard (2001b) called “material imagination”

  • Beach em O deslumbramento (DURAS, 1986), com sua música e seu silêncio; ou ainda a orquestração de ruídos, gritos, ventos etc. em Dix heures et demie du soir en été (DURAS, 1993), tal como analisado por Christian Doumet (2001)

  • É nesse momento que a música parece penetrar em todos os níveis de suas criações e com particular ubiquidade e densidade em uma obra como India Song

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Summary

Do original

C’est lié, la forêt et la musique, quelque part. Quand j’ai peur de la forêt, j’ai peur de moi, bien sûr, voyez-vous, j’ai peur de moi depuis la puberté, n’est-ce pas. Em nenhum momento Duras parece interessar-se por tecer uma crítica em que, assim como o trabalho alienado pode ser a prisão do proletário, também essa adesão à casa, se alienada, pode ser lida como um aprisionamento da mulher. Algumas páginas mais adiante, pelo seguinte: Sim, você sabe, foi na floresta que nós, as mulheres, falamos pela primeira vez, que proferimos uma fala livre, uma fala inventada; tudo isso que eu lhe dizia de Michelet, que as mulheres começaram a falar aos animais, às plantas, é uma fala delas, que elas não tinham aprendido. Essa anterioridade em relação ao homem é a mesma da floresta: a mulher descobre uma intimidade com a floresta, esse lugar pré-histórico, pré-cultural, pré-discurso masculino que nomeia a tudo e que entra em sofrimento quando nomear não é possível. Novamente há aqui um contraste considerável com a condição feminina, que “desliza para o interior [da floresta]” e que ali encontrou sua fala autêntica, justamente porque

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