Abstract

Comer, para além de um ato biológico, é um ato cultural, resultado da apropriação de recursos da natureza que, transformados em comida, ganham a identidade do grupo que deles se apropria. Assim, objetivamos com esse paper conhecer as apropriações e usos alimentares do fruto de miriti no contexto rural e urbano em Abaetetuba, Pará, munícipio conhecido como ‘capital mundial do miriti’. Para a condução da pesquisa, utilizamos a aplicação de questionários, entrevistas não diretivas e observação participante, realizadas com ribeirinhos na Ilha Sirituba, zona rural do município e com mingauleiros de miriti da ‘beira’ de Abaetetuba e cozinhas na praça de alimentação das duas últimas edições do Miriti Fest. Os usos alimentares do fruto foram registrados tanto no contexto rural, onde é considerado ‘comida do sítio’ e integra todas as refeições, contribuindo significativamente para a segurança e soberania alimentar dos ribeirinhos, quanto no contexto urbano, onde é consumido no dia a dia, principalmente na forma de mingau, e, resignificado, torna-se ‘comida de festa’ durante o Miriti Fest. Assim, concluímos que o miriti faz parte do patrimônio alimentar de Abaetetuba, constituindo-se como ‘comida de todos’, uma vez que ultrapassa as fronteiras do município.

Highlights

  • Eating, beyond a biological act, is a cultural act, result from the appropriation of natural resources that, transformed into food, gain the identity of the group that appropriates them

  • Desde os primórdios da civilização o homem busca na natureza os meios para garantir sua reprodução, apropriando-se de espécies vegetais e animais e destinando-as para construções, medicina tradicional e alimentação

  • As comidas e bebidas preparadas com o miriti também se transformam em ‘lembrança’, podendo ser compradas e levadas para se consumir fora do contexto de Abaetetuba, pelos próprios turistas que as adquirem como forma de permanecer próximos daquela cultura mesmo ‘de longe’, ou por um terceiro, a quem este presenteará, apresentando e dividindo a cultura outrora experimentada e apreciada

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Summary

Alguns apontamentos sobre o campo de pesquisa

Abaetetuba é uma cidade do nordeste paraense, localizada a 01o 43” 24” de latitude Sul e 48o 52” 54”. Realizamos nossa pesquisa junto aos mingauleiros, com os quais conduzimos entrevistas não diretivas (Michelat, 1987), a fim de conhecê-los e apreender sua relação com o miriti e o mingau, elementos da cultura ribeirinha que foram, por eles mesmos, introduzidos na cidade. A coleta e consumo eventual dos frutos in natura são mais evidenciados entre as crianças, que apanham os frutos diretamente debaixo da palmeira e os ‘roem’ com os dentes a qualquer momento e não necessariamente para suprir a fome. O preparo do miriti mole consiste em se escolher os frutos - geralmente de uma palmeira ‘especial’ por ser mais gostoso - lavar e colocar de molho em uma lata (Figura 1A) sobre o fogo, o qual deve ser controlado para que a água não levante fervura, pois isso ‘aperreia’ a polpa, impossibilitando a raspagem. Ainda se realiza a extração manual, que consiste em se amassar a massa do miriti em uma peneira, adicionandose água, para separar a polpa da casca

Apropriações e usos alimentares do miriti
Brigadeiro de miriti
Considerações finais

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