Abstract

Embora um importante esforço venha sendo empreendido com o intuito de estabelecer a institucionalização de sistemas partidários como uma dimensão crítica, as implicações políticas concretas dessa institucionalização têm recebido relativamente pouca atenção da academia. Pouco se sabe, por exemplo, sobre as formas através das quais ela promove a consistência programática de governos. Este artigo contribui para este debate investigando um fenômeno característico da política latino-americana - mudanças programáticas empreendidas por presidentes de esquerda empossados em meio a ataques especulativos - e examinando de que forma níveis de institucionalização afetam a probabilidade de que essas mudanças ocorram. Os resultados mostram que, deparados com fortes pressões especulativas, presidentes de esquerda tendem a abandonar suas promessas de campanha em favor de uma agenda econômica conservadora. Ao contrário do esperado, no entanto, essas mudanças ocorrem mais frequentemente em sistemas partidários institucionalizados.

Highlights

  • O impacto nulo de ataques especulativos em mudanças programáticas realizadas por presidentes neoliberais é evidente uma vez que se observa que, apesar de o tratamento variar (o valor mediano da variável ataque especulativo, nesses casos, é de 3,73, com desvio-padrão de 3,70), os efeitos permanecem constantes

  • Caso nem o tratamento nem o efeito variassem, seria impossível determinar a influência de ataques especulativos sobre governos neoliberais

  • Dentre os governos de esquerda eleitos na América Latina, aqueles que iniciaram seus mandatos sob fortes pressões especulativas, e em sistemas nos quais o Executivo detém muitos poderes constitucionais, são os mais propensos a abraçar um programa neoliberal logo após a posse

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Summary

Daniela Campello

A eleição de Lucio Gutiérrez, no Equador, em 2002, ilustra as barreiras impostas pelo mercado financeiro à adoção de uma agenda de esquerda na América Latina. Não surpreende que um presidente, empossado no limiar de uma crise financeira, mude imediatamente para um programa político pró-investidor apesar de ter sido eleito com base em promessas de implementação de um conjunto de políticas bem diferentes. Esse é o caso de Carlos Andrés Pérez, candidato da Ação Democrática, eleito em 1989 na Venezuela – país apontado como exemplo de institucionalização do sistema partidário até a metade dos anos 1990 – após uma campanha em que prometia um aumento substantivo de salários em todos os setores da economia e uma guerra contra a pobreza, sinalizando a continuação da agenda econômica nacionalista e protecionista do governo de seu antecessor e correligionário Jaime Lusinchi. À luz dos casos descritos, esse artigo se propõe a testar em que medida a institucionalização de partidos e sistemas partidários logra impedir mudanças programáticas em resposta a repentinas saídas de capital ocorridas durante as eleições presidenciais. A terceira parte apresenta uma análise empírica que testa as hipóteses traçadas em um conjunto de 89 eleições ocorridas na América Latina, cuja conclusão compõe a última seção

INSTITUCIONALIZAÇÃO PARTIDÁRIA E CONSISTÊNCIA PROGRAMÁTICA
ATAQUES ESPECULATIVOS E MUDANÇAS PROGRAMÁTICAS NA AMÉRICA LATINA
DESENHO DE PESQUISA E ANÁLISE DE DADOS
Variáveis Explicativas
Variáveis de Controle
Campanhas Neoliberais
Campanhas de Esquerda
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Movimiento Quinta República
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