Abstract

Por se tratar de instrumento que privilegia a investigação do sentido, a entrevista é uma das ferramentas mais utilizadas em pesquisas qualitativas, fazendo-se necessária reflexão sobre seu uso. O objetivo do presente artigo é debater seus desafios e possíveis implicações para o participante. A análise, sustentada em trechos de entrevistas extraídos de diferentes projetos, se debruçou sobre dois aspectos: 1. a relação entre pesquisador e participante e 2. possíveis implicações para o entrevistado. Discute-se que a entrevista se constitui no campo intersubjetivo pesquisador-pesquisado, com variabilidades e influências contextuais que estão para além da possibilidade de controle total do investigador sobre o processo, evidenciando o papel ativo de ambos no acontecimento da própria entrevista. A respeito das implicações, observa-se que a entrevista é oportunidade de expressar experiências não reveladas em outros contextos e que, ao revisitar sua história, a percepção do narrador sobre ela e sobre si mesmo podem se alterar. Estes aspectos fazem com que a entrevista seja momento de constituição de sentidos e não de mero relato, o que pode também implicar em mobilização de afetos não elaborados. Diante desses problemas, nota-se que a entrevista pode oferecer concomitantemente risco de sofrimento e possibilidade de ressignificação para o participante. Concluímos que tanto do ponto de vista ético, quanto da viabilidade da pesquisa, é necessário ao entrevistador não apenas o conhecimento teórico-metodológico, mas também acolhimento e empatia, bem como disponibilidade e confiança por parte do participante.

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