Abstract

Durante a preparação para a Copa do Mundo de 2014, setores da mídia, ONGs e o Estado contribuíram para criar um pânico crescente sobre a prostituição. Incursões policiais violentas em locais lícitos de comércio sexual aumentaram e a polícia convidou a imprensa para transmitir o fechamento do local de turismo sexual de maior visibilidade no dia da abertura da Copa. Na verdade, a prostituição não aumentou no Rio de Janeiro e não houve casos confirmados de tráfico sexual associados ao evento na cidade. A “limpeza” das zonas de prostituição foi uma apropriação das terras com o objetivo de promover a limpeza social e a “renovação urbana” em Copacabana (Rio de Janeiro). Este artigo analisa como atores estatais e não-estatais construíram imagens de “gringos” – frequentemente como invasores predatórios –, criando um pânico moral para promover suas próprias agendas. Baseando-se em trabalho de campo etnográfico realizado com profissionais do sexo e clientes antes, durante e depois da Copa, a pesquisa analisa as fantasias projetadas sobre os “gringos” por vários atores – profissionais do sexo, setores da mídia, cristãos evangélicos e feministas, entre outros. Argumenta-se que os clientes “gringos” durante a Copa podem ser entendidos como turistas sexuais atípicos, que possuem uma agência limitada e que vivenciaram diferenças importantes no capital social e na competência cultural. A crença nas ideias preconcebidas sobre a masculinidade do “gringo” gerou consequências sociais imprevistas, incluindo a marginalização ainda maior das mulheres vulneráveis que trabalham na economia sexual do Rio.

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