Abstract

Por acaso as práticas de autosubjetivação – compreendendo as “artes da existência” de Michel Foucault – forneceriam alternativas para uma ética inteiramente distinta das éticas filosóficas com base em uma adequação às categorias de uma verdade moral amparada na natureza humana, na natureza de Deus, na natureza de acordos organizados em torno de uma ideia de “bem” da sociabilidade, na natureza de regras de sociabilidade antecipadas pelos pressupostos da comunicação cotidiana? Através do cotejo entre o conceito de “cuidado” em Heidegger, como estrutura que preserva a abertura do ser-aí para a confrontação com o seu caráter essencial de poder-ser, e o “cuidado de si” em Foucault, espécie de revitalização da prática filosófica que remete a “educação para a política” a certas “relações de si para consigo”, pretendemos introduzir os traços de uma ética filosófica que não cessou de dever tributos a Heidegger na tradição que constituiu a filosofia francesa do pós-guerra.

Highlights

  • O que Foucault faz em As palavras e as coisas (1966) é se reportar ao solo epistemológico sobre o qual foi possível não somente dizer a verdade sobre o sujeito, mas sobretudo promover a status de “problema” a verdade requerida por uma sociologia, uma psicologia, uma antropologia

  • Não mais descoberta de uma verdade no sujeito, não se tratará mesmo de identificar a alma com a verdade, como o objeto de discurso verdadeiro, mas, contrariamente, “dotar o sujeito de uma verdade que ele não conhecia e que não residia nele; trata-se de fazer desta verdade apreendida, memorizada, progressivamente aplicada, um quase-sujeito que reina soberanamente em nós.” (FOUCAULT, 2006, p.604) Recolocando nos termos da noção de “cuidado” em Ser e tempo há paralelos: o ser-aí humano assume sobre si o cuidado que ele é em relação a si na compreensão da indeterminação constitutiva da sua existência, na conquista do desocultamento do caráter de indeterminado do ser-aí

  • A “estetização da política” designaria por fim um momento em que a política ganha corpo no cotidiano, que a política é política na faticidade da existência ética; e que é justamente na interpelação cínica perpétua e dirigida, seja ela de forma coletiva ou difusa, ou num recorrente pôr em pauta certas práticas de autosubjetivação como sujeitos de verdade, que a política ganharia abertura para projetos de novos rearranjos das relações de força

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Summary

Introduction

Are the practices of subjectivation – including Michel Foucault's "arts of existence" – alternatives to an ethic entirely distinct from philosophical ethics based on an adequacy to the categories of a moral truth supported by human nature, by God's nature, by the contracts organized around the idea of "good" of sociability, by nature of sociability rules anticipated by the presuppositions of the communication? Through the comparison between Heidegger’s concept of "care", as a structure that preserves the openness of there-Being to the confrontation with his essential character of potentiality-forBeing, and the Foucault’s concept of “Care of the Self”, a kind of revitalization of philosophical practice that refers "education to politics" to a certain "self-relations to itself," we intend to introduce the characteristics of a philosophical ethic that was influenced by Heidegger in the tradition that constituted contemporary French philosophy.

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