Abstract

A passagem do tempo nas fotografias de Alessandra Sanguinetti evoca a imagem em movimento se esta for entendida como mudança de qualidade. São imagens de um encontro entre o cinema e a fotografia que, contaminando-se mutuamente com seus processos, expandem-se um em direção ao outro. Uma duração real parte do referente (a vida quotidiana das personagens fotografadas) para a fabulação, fazendo surgir tantos outros seres, outros tempos, todos eles vivos na imagem. Trata-se de um género documental imaginário, onde as imagens evocam bifurcações, ganham corpo e movimento na medida em que não mais remetem a um real dado e objetivo, mas a um tempo alargado, de duração indeterminada. Os dez anos de feitura do ensaio The adventures of Guille and Belinda and The enigmatic meaning of their dreams aparecem então como se fotografados em uma única tarde. As durações e devires na passagem da infância à vida adulta ou do jogo superficial a um intenso encontro performativo fundam-se numa forma de discurso indireto livre. Por meio de uma noção ampla do dispositivo surge esta forma de subjetividade indireta livre própria à fotografia ocupando a fenda criada entre objetividade e subjetividade, privilegiando aspectos imateriais e temporais nas imagens.

Highlights

  • A noção de “cinema expandido” conceptualizada pela primeira vez por Gene Youngblood em 1970 buscava dar conta da emergência do vídeo e das novas tecnologias que, em diálogo com a forma estabelecida do cinema, abriam novos campos de possibilidades

  • Em seu próprio funcionamento o dispositivo produz linhas de subjetivação que, por definição, estão a ponto de criar novos agenciamentos, novos dispositivos, novas linhas de subjetivação5

  • P. Dutton & Co., Inc. Recebido em 30-6-2014

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Summary

Exposição do tempo

As fotografias de Sanguinetti poderiam ser experimentadas no âmbito das expansões de um cinema e de uma fotografia que se “contaminam” mutuamente complexificando ainda mais as imbricações que aproximam os diferentes campos das artes no contexto contemporâneo. Seja nos espaços de museus e galerias, seja na edição de seus fotolivros, as fotografias de Sanguinetti remetem a imagens potentes do tempo não só na medida em que falsificam identidades por meio da fabulação (recurso de bifurcação do tempo, segundo Deleuze) mas pela própria forma de seu conjunto anacrónico. A ideia de sonho que se pode destacar no título de The adventures of Guille and Belinda and The enigmatic meaning of their dreams remete em muitos aspetos à fotografia de inspiração surrealista22 – dentre outras referências como, por exemplo, a da montagem cinematográfica – onde os processos particulares que poderiam corresponder aos mecanismos de condensação e deslocamento reenviam a trocas constantes entre atual e virtual, objetivo e subjetivo, individual e coletivo. Esta prática fotográfica instaura um jogo em que se questiona a própria constância da forma, a possibilidade de circunscrever identidades e, junto disto, o género documental, que aqui tende muito mais ao ensaio

Performance fabulatória
Movies and Methods
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