Abstract
Neste artigo trataremos da peça Anfitrião ou Júpiter e Alcmena (1736), de Antônio José da Silva (1705-1739), considerando o fingimento enquanto apropriação de identidade: Júpiter se transforma em Anfitrião, e o mesmo faz Mercúrio em relação à Saramago. Notamos que o autor luso-brasileiro, à guisa de superação do modelo plautino e de seus paradigmas intertextuais, reforça em sua peça os processos de multiplicação, acrescentando desdobras ao mythos inicial. Nesse sentido, podemos identificar vários procedimentos de desdobras, dentre os quais, a divisão da “fôrma-Anfitrião” em marido (Anfitrião ele-mesmo) e amante (Júpiter disfarçado); a inserção de Juno e Íris como fator de oposição à aventura amorosa de Júpiter e, consequentemente, à ramificação da ação principal. Para tanto, relacionamos a estratégia do fingimento das personagens, incluindo a sedução feminina, aos processos de desdobras realizados pelo comediógrafo. Na peça em questão, a personagem Juno desdobra duas vezes sua identidade, fingindo-se primeiramente Felizarda e, então, Flérida. Discorremos, ainda, sobre os quadrângulos amorosos, que também se dão como desdobras: em paralelo aos jogos amorosos entre os discretos (Anfitrião/Alcmena/Júpiter/Juno), teremos a ação cômica, que se dá pelos quiproquós entre Mercúrio/Cornucópia/Saramago/Íris. Logo, constatamos que os processos de desdobras que marcam a estética barroca manifestam-se tanto na estrutura das intrigas séria e cômica da peça quanto nas variações de identidade das personagens, tendo Antônio José da Silva investido sobremaneira neste recurso, de modo quase vertiginoso.
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