Abstract

Estes escritos versam sobre figuras do cotidiano de ex-internos de um hospital psiquiátrico em uma residência terapêutica na cidade de Vitória-ES. Após anos de isolamento manicomial, seus moradores e parceiros criam caminhos comuns de uma vida em liberdade, abrindo-se à imprevisibilidade das relações sociais, temporais, afetivas etc., que se dão no espaço comunitário, bem como às lutas e resistências diante dos mecanismos biopolíticos de normalização. Foram utilizados registros em caderno de campo como ferramenta metodológica, inspirando a produção de pequenas narrativas, fragmentos de histórias, que compõem e ativam o fluxo de experiências associadas à reforma psiquiátrica e à luta antimanicomial, com o objetivo de contribuir para uma manutenção das conquistas desse campo e também para o avanço desses processos. Os resultados apontam para a produção de um cuidado em saúde mental indissociável de uma dimensão ético-estético-política, afirmando práticas de potencialização de liberdades, buscando afetações e trocas com outras formas de sociabilidade.

Highlights

  • This research approaches aspects of the everyday life in a therapeutical residence in Vitória, Espirito Santo state, Brazil

  • Muito mais, uma busca por pistas capazes de nos deslocar dos modos de existência que temos colocado em funcionamento, um deslocamento de nós mesmos que envolve um “sujar-se” com as matérias do mundo, permitir afetar e ser afetado por tudo aquilo que pode diferir radicalmente das figuras já conhecidas ou re-conhecidas no espelho de nossas certezas

  • E nos passos que levavam até a rua foram sendo diluídas as posições estanques da sala de estar; e na dança dos corpos até o meio-fio outra espécie de afetos foi tomando o corpo deste que escreve

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Summary

Narrar o “inútil”

Após o café e a chegada de um amigo, o homem resolve sair de casa. Transforma um trajeto simples e rápido, ordinário, em demorado saboreio de cumprimentos, toques nos muros das casas e vento. E num ritmo contrário ao frenesi de buzinas e gente apressada, ele encontra uma praça deserta. Abraça o chão verde, luminoso sob o sol das dez. E, feito lagarto, rasteja até a fronteira da praça com a rua. Que nem César ou Adriano, observa a vida de novo ângulo, e conta: 4 carros; 2 motos; 3 casas; mulher; árvores. E assim prossegue no inventário das coisas todas. Revigorado, inclui a si e ao amigo no cômputo do espólio

H Endereço para correspondência
As pequenas histórias
Conclusão: de casa para o meio-fio

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