Abstract

Resumo: Este artigo analisa, de uma perspectiva comparativa, aspectos do processo de construção social do trabalho de care, em particular as suas tênues fronteiras com o trabalho doméstico. Focaliza três realidades socioculturais distintas, as da França, do Japão e do Brasil, hoje desafiadas por um problema comum, o do envelhecimento das suas populações, do qual decorre o relevo que adquirem as ocupações associadas ao cuidado com os idosos e dependentes. "Auxiliaires de vie", "helpers" ou "cuidadoras", as pessoas dedicadas a essa ocupação partilham características, a mais destacável o fato de serem mulheres. Mas elas se diferenciam em aspectos relativos seja às características dos respectivos mercados de trabalho, que impactam nas suas trajetórias ocupacionais; seja às estruturas familiares e aos atores envolvidos no "cuidado"; seja às políticas públicas para o setor e aos requisitos de formação profissional para os que nele atuam. A esses aspectos o artigo dedica as suas principais sessões, que serão antecedidas por uma breve revisão sobre a categoria e as diversas declinações do care, no discurso analítico e no linguajar nativo.

Highlights

  • À luz dos dados estatísticos disponíveis para o Brasil e fornecidos pela PNAD-2007, podemos dizer, então, que o trabalho das “cuidadoras”: — É um trabalho sem proteção formal: em 2007, apenas 24% delas tinham carteira de trabalho assinada, o que contrasta com a média dos trabalhadores contratados, entre os quais 66% tinham registro formal em carteira; a esse respeito, as “cuidadoras” muito se aproximam das trabalhadoras domésticas, entre as quais apenas 28% tinham contratos formais. — É exercido por trabalhadoras com baixa escolaridade: 63% delas têm apenas o ensino fundamental, o que novamente as aproxima das empregadas domésticas, dentre as quais 80% têm no máximo oito anos de estudos, e as distancia dos auxiliares de enfermagem, os quais 75% tinham mais que o ensino fundamental.10 — É um trabalho de baixa remuneração: 66% das cuidadoras ganham até um salário mínimo, o que não as diferencia muito das empregadas domésticas (70% das quais recebiam uma remuneração semelhante), mas que novamente as afasta do conjunto dos trabalhadores empregados

  • As teorias e os debates sobre o care, que datam de ao menos trinta anos no mundo anglo-saxônico, em particular nos Estados Unidos (Gilligan, [1982] 2008; Tronto [1993] 2009; Moller Okin, [1989] 2008), desenvolveram-se bem mais recentemente na França, apenas nos últimos cinco anos (Paperman & Laugier, 2005; Molinier, Paperman & Laugier 2009; Garrau & Goff, 2010), e têm suscitado um interesse crescente na América Latina e na América Central, onde pesquisas vêm sendo realizadas em países como Chile, México, Argentina e Nicarágua.[1]

  • Palavras-chave: Care; Cuidado; Comparações Internacionais; Trabalho profissional e trabalho doméstico; Trabalho doméstico

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Summary

Tradução de Philippe Dietman

As teorias e os debates sobre o care, que datam de ao menos trinta anos no mundo anglo-saxônico, em particular nos Estados Unidos (Gilligan, [1982] 2008; Tronto [1993] 2009; Moller Okin, [1989] 2008), desenvolveram-se bem mais recentemente na França, apenas nos últimos cinco anos (Paperman & Laugier, 2005; Molinier, Paperman & Laugier 2009; Garrau & Goff, 2010), e têm suscitado um interesse crescente na América Latina e na América Central, onde pesquisas vêm sendo realizadas em países como Chile, México, Argentina e Nicarágua.[1]. Então, adequado assumir, como de resto o fazem outros estudiosos, a distinção analítica entre alguns campos do care: o das tarefas domésticas, o do cuidado das crianças e o dos cuidados às pessoas dependentes, isto é, aos idosos e deficientes.[7] Procuraremos, entretanto, atentar para o risco de limitar a análise a um (ou a alguns poucos) dentre esses campos, por estarmos seguras da importância analítica da configuração do care como um todo, o que, com efeito, tem sido um desafio para os que elegeram esse domínio como o seu objeto de estudo. No Japão, onde quase não existem empregadas domésticas, a continuidade dos cuidados é dificilmente concebível, requerendo, por isso mesmo, uma combinação entre diferentes agentes prestadores de cuidados: desde os familiares aos ajudantes com contrato privado, passando pelos homehelpers contratados no quadro do LTCI e/ou, no caso das instituições de cuidados, pelos kaigo fukushishi (cuidadoras e cuidadores diplomados pelo Estado após três anos de experiência ou de estudos). O número reduzido de horas de trabalho desses ajudantes domiciliares é um indicador da precariedade das relações de emprego sob as quais desenvolvem suas atividades: ainda conforme a Pesquisa Emprego, 70% deles estavam ocupados em tempo parcial, contra 16% na média dos empregados franceses (Devetter et al, 2009: 32)

AS POLÍTICAS PÚBLICAS DO CARE
Setor público
Fornecimento de serviços por ONGs autorizadas pelo governo
Findings
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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