Abstract

O artigo tem o objetivo de analisar a cena inaugural da conquista da América como “ato reiterativo” e suas traduções intersemióticas como conformadoras de um arquivo que o restaura e repete em um presente em constante renovação, constituindo-se as traduções como reperformances dessa cena inaugural e de seus desdobramentos. Ao observar os movimentos que acompanham o momento inaugural da conquista territorial, vem à baila a condenação de práticas incorporadas de indígenas (língua falada e ritos, em particular) e a funcionalidade da tentativa de seu apagamento para efeitos de dominação. O trabalho de transcrição e tradução de parte do repertório de culturas ameríndias, levado a cabo por missionários como Diego de Landa e Bernardino de Sahagún, discute-se como duplo movimento onde se enfrentam memória e apagamento. Se, por um lado, deixam um registro de memória arquival que permite reconhecer as performances indígenas banidas pelo poder colonial, por outro lado, a concepção monológica da tradução faz prevalecer o objetivo da conversão da cultura de partida, redundando em uma forma de apagamento por sua subjugação aos paradigmas da cultura de chegada.

Highlights

  • Eleonora Frenkel Barretto the inaugural moment of territorial conquest, the condemnation of embodied practices of indigenous people and the attempt to erase them for the purpose of domination comes up

  • Com suas armas em riste, resguarda os líderes e os símbolos, emoldurando o ato que instaura o domínio; outra parte, comemora a chegada em terra firme e alguns a tocam, quiçá anunciando a escavação em busca de ouro

  • 21 Lê-se na sentença: “E para que estes índios se desfaçam do ódio que criaram contra os espanhóis, usem os trajes indicados pelas leis, vistam-se de nossos costumes espanhóis e falem a língua castelhana, será introduzido com maior vigor do que até aqui se tem feito o uso de suas escolas, ficando submetidos a penas mais rigorosas e justas aqueles que não as usem.” (Areche; tradução minha) “Y para que estos indios se despeguen del odio que han concebido contra los españoles, y sigan los trajes que les señalan las leyes, se vistan de nuestras costumbres españolas, y hablen la lengua castellana, se introducirá con más vigor que hasta aquí el uso de sus escuelas bajo las penas más rigorosas y justas contra los que no las usen.” (Areche) experimentar as diferenças entre as línguas, sem a subjugação ao pensamento etnocêntrico; traduções antimiméticas e dialógicas que apontam para a negação da imitação servil da cultura da metrópole e para a abertura a uma construção coletiva da memória

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Summary

MEMÓRIA DA COLONIZAÇÃO EM TRADUÇÃO E PERFORMANCE

Eleonora Frenkel Barretto1 1Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. Resumo: O artigo tem o objetivo de analisar a cena inaugural da conquista da América como “ato reiterativo” e suas traduções intersemióticas como conformadoras de um arquivo que o restaura e repete em um presente em constante renovação, constituindo-se as traduções como reperformances dessa cena inaugural e de seus desdobramentos. Ao observar os movimentos que acompanham o momento inaugural da conquista territorial, vem à baila a condenação de práticas incorporadas de indígenas (língua falada e ritos, em particular) e a funcionalidade da tentativa de seu apagamento para efeitos de dominação. Por um lado, deixam um registro de memória arquival que permite reconhecer as performances indígenas banidas pelo poder colonial, por outro lado, a concepção monológica da tradução faz prevalecer o objetivo da conversão da cultura de partida, redundando em uma forma de apagamento por sua subjugação aos paradigmas da cultura de chegada.

Performance e tradução da cena inaugural da conquista
Memória da colonização em tradução e performance
Tradução monológica e catequese
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