Abstract

Partindo das reflexões de Michel Foucault no final dos anos 1970 e da noção desenvolvida mais recentemente de “governamentalidade algorítmica”, entendida como um novo regime de poder e saber baseado na coleta, mineração e cruzamento de grandes volumes de dados, o presente artigo pretende analisar criticamente as chamadas “cidades inteligentes” (smart cities), nas quais a infraestrutura e os serviços são interligados de maneira supostamente mais racionalizada e eficiente, oferendo finalmente o sonhado bem-estar e a vida feliz. Essa utopia de organização social será associada a uma nova forma de racionalidade política e estratégia de governo por meio de algoritmos, que colocam importantes e inquietantes questões. Neste trabalho, ressaltaremos a capacidade que os algoritmos possuem de nos governar, no sentido de conduzir nossas condutas e estruturar o campo das ações possíveis. E o foco deste artigo recairá sobre a tensão entre liberdade e controle inscrita nessa nova governamentalidade, que tem por objeto mais imediato os dados, as relações e os ambientes.

Highlights

  • Recebido30-04-2018/ Aceito: 07-12-2018/ Publicado online: 01-02-2019. 2 Doutor em filosofia e professor Adjunto de Teoria e Filosofia do Direito na Universidade Federal de Minas, UFMG, Minas Gerais, Brasil

  • Até onde devemos levar nosso desejo por segurança, eficiência, previsibilidade e conforto? Não estaríamos, talvez, bloqueando o risco inerente à liberdade humana? Até que ponto é possível conjugar vida livre e vida segura? Até que ponto é compatível o conforto com a ousadia do pensamento e a permanente inquietude que nos leva a buscar uma incessante transformação de nós mesmos e do mundo em que vivemos? Como ensinava Guimarães Rosa (1994, p. 778), viver é muito perigoso: “Travessia perigosa, mas é a da vida”

  • Based on Michel Foucault's reflections in the late 1970s and the more recently developed notion of “algorithmic governmentality”, understood as a new regime of power and knowledge based on the collection, mining and crossing of large amount of data, this article intends to analyze critically the so-called “smart cities”, in which infrastructure and services are linked in a supposedly more streamlined and efficient way, offering the dreamed well-being and happy life

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Summary

Recebido

30-04-2018/ Aceito: 07-12-2018/ Publicado online: 01-02-2019. 2 Doutor em filosofia e professor Adjunto de Teoria e Filosofia do Direito na Universidade Federal de Minas, UFMG, Minas Gerais, Brasil. O objetivo deste trabalho possui uma natureza mais propriamente filosófica, voltada para a compreensão de uma nova racionalidade política e um novo sonho de organização social, que colocam importantes e inquietantes questões acerca do exercício da liberdade humana nesses novos ambientes. CIDADE INTELIGENTE E GOVERNAMENTALIDADE ALGORÍTMICA: LIBERDADE E CONTROLE NA ERA DA INFORMAÇÃO sendo desenvolvida recentemente a partir de algumas reflexões feitas por Michel Foucault, em especial a partir do curso ministrado em 1978 no Collège de France, publicado com o título Segurança, Território, População, ressaltandose a capacidade que os algoritmos possuem de nos governar, no sentido de conduzir nossas condutas e estruturar o campo das ações possíveis. Na terceira parte do artigo, o foco será dirigido para o sonho da smart city, analisando-se o surgimento dessa utopia e alguns de seus traços mais característicos. Na quinta e última parte, algumas considerações críticas serão apresentadas no sentido de questionar o possível comprometimento da própria liberdade humana no seio dessa cidade governada por algoritmos

PODER E GOVERNO EM MICHEL FOUCAULT
A GOVERNAMENTALIDADE ALGORÍTMICA
A CIDADE GOVERNADA: O SONHO DA SMART CITY
A PERSONALIZAÇÃO DA EXPERIÊNCIA URBANA E A PERDA
O GRANDE PERIGO PARA A LIBERDADE
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