Abstract
Meus estudos de doutorado desenvolvidos nos anos 1990 me levaram a concluir/constatar que o modelo urbano e arquitetônico modernista se revelou falacioso, mesmo que tendo se constituído como modelo cristalizado no Brasil (Autor, 2001). Falacioso tanto no sentido de que uma das máximas da arquitetura modernista "a forma segue a função" produziu campus e cidades universitárias povoadas de edifícios-ícones muitas vezes com graves deficiências de utilização (como questões sonoras e ambientais do Instituto Central de Ciências (ICC) da Universidade de Brasília (UnB), projetado por Oscar Niemeyer, entre outros exemplos), assim como a preconização de se ter o espaço universitário como um dos setores conformadores da planejada cidade moderna (conforme preceituada pela Carta de Atenas, de 1933) promoveu, em muitos casos, uma ruptura desastrosa e elitizada entre cidade e universidade. Em complemento a isso, os ideários do planejamento estratégico contemporâneo da virada do século XX para o XXI, ao invés de se afastar de soluções que já vinham se mostrando desagregadoras, vão na direção de acirrar determinadas características setorizantes e excludentes (mesmo que travestidas de inclusivas e diversificadas) que privilegiam as relações econômicas em detrimento das relações socais, produzindo espaços de forte atratividade turística e de investimentos de capitais internacionais globais, mas que não potencializam relações de sociabilidade e de apropriação espacial mais efetiva. Pode-se observar tais resultados tanto nos estudos que desenvolvi sobre as soluções urbanas implementadas na cidade de Niterói/RJ, a partir de projetos arquitetônicos de Oscar Niemeyer (Autor, 2015a; 2015b), assim como diversos estudos sobre regeneração de áreas portuárias pelo mundo afora, como no caso da região do Porto Maravilha (Rio de Janeiro/RJ) que apontam o mesmo tipo de solução: espaços de forte atratividade turística e de consumo estruturados a partir de soluções arquitetônicas emblemáticas "assinadas" pelos mais reconhecidos arquitetos internacionais. Se o campus moderno/modernista se mostrou um modelo falacioso uniforme/uniformizador, o modelo urbano atual se mostra regido por lógica similar. Este texto busca reforçar a necessidade de soluções urbanas capazes de se contrapor a esta lógica, se configurando como alternativas que possam justificar a expressão de Walter Benjamin ao propor "varrer a história a contrapêlo". Busca-se refletir sobre a produção do espaço e as práticas socioculturais resultantes e vislumbrar/flagrar formas de produção de espaço que tragam reforço à sociabilidade.
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