Barreiras socioeconômicas para a restauração florestal em propriedades rurais

Abstract

O sucesso e a expansão da escala de iniciativas de restauração dependem do envolvimento efetivo das comunidades rurais e das partes interessadas. No entanto, na maioria das iniciativas de restauração que tem sido realizada no Brasil, abrangendo várias escalas, a expectativa e a disposição dos agricultores não têm sido levadas em consideração, resultando em um fraco envolvimento dos proprietários. Isso é particularmente importante quando se considera a necessidade de cumprimento da legislação ambiental atual do Brasil, que exige que pelo menos 20% das propriedades rurais de uma determinada categoria de tamanho sejam cobertas (ou restauradas) com floresta nativa ou outro tipo de vegetação natural. Para alcançar esse envolvimento, é necessário conhecer os modelos mentais e as motivações do agricultor em relação à restauração florestal. Nosso objetivo foi conhecer a percepção dos proprietários rurais inseridos em uma APA (Área de proteção Ambiental) acerca das florestas nativas e da importância de se restaurá-las. Testamos se a classe de tamanho e condições socioeconômicas e culturais da propriedade afetam a relação dos proprietários com as florestas e áreas que necessitam serem restauradas/recompostas, levantando as principais barreiras que impedem a participação efetiva deles em ações de restauração florestal em suas terras. O estudo envolveu 82 propriedades rurais no município de Botucatu, região central do estado de São Paulo, Brasil, incluindo diferentes categorias de tamanho e contextos socioeconômicos. Quase 50% dos proprietários da amostra eram micro agricultores, 30% pequenos agricultores, 11% produtores de tamanho médio e 9% grandes agricultores. Entrevistas semiestruturadas foram aplicadas para abordar questões relacionadas às condições do ambiente físico e biótico, marcos culturais, aspectos socioeconômicos e percepções do papel das florestas em suas propriedades. Entre os entrevistados, 88% declararam possuir faixas de proteção florestais de fontes de água, principalmente nas nascentes, demonstrando interesse e percepção da necessidade de conservar água em suas propriedades. No entanto, apenas 34% dos entrevistados manifestaram algum interesse em restaurar áreas degradadas ou reservas legais, quando necessário. Assim, a maioria dos produtores, independentemente do tamanho de sua propriedade e situação econômica, está ciente da importância das florestas na manutenção e proteção de nascentes e outras fontes de água. No entanto, a maioria dos entrevistados não parecia motivada a restaurar outras áreas desmatadas em suas terras, pois essa atividade é frequentemente associada apenas a uma obrigação legal não desejável, resultando na perda de sua área produtiva, principalmente pelo alto custo e sem retorno econômico. Percebe-se que ações educativas e de treinamento fazem-se necessárias, visando obter maior envolvimento desses produtores, a fim de garantir o sucesso das iniciativas.