Abstract

A produção cinematográfica brasileira – e o pensamento teórico/crítico gestado por tal – apresenta, de maneira recorrente, influxos acerca do problema do subdesenvolvimento. O movimento do Cinema Novo é simbólico nesse sentido por tentar incorporar criativamente a própria precariedade econômica e técnica, índices do terceiro mundo, na linguagem cinematográfica de seus filmes, buscando uma dicção original, isto é, independente dos repertórios estrangeiros. Outras manifestações artísticas também irão pôr em perspectiva a construção da identidade nacional em diálogo com o discurso da precariedade (como o tropicalismo na música e o cinema marginal, por exemplo), e é nessa toada que este artigo pretende analisar o filme Bacurau (2019), dirigido pelos cineastas pernambucanos Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles. Para tal, recorremos sobretudo ao estudo da violência como produto de uma estética derivada da Estética da fome, manifesto escrito por Glauber Rocha para definir a ética e a estética do cinema produzido em terras tupiniquins. Além disso, buscamos mapear historicamente o longa no campo da contemporaneidade, identificando elementos por vezes anacrônicos acoplados a tessitura cinematográfica do filme. Debruçamo-nos, pois, tanto a investigação dos aspectos próprios da linguagem fílmica (enquadramentos, diálogos, movimentos de câmara etc.), quanto à interação desses elementos com estudos ligados ao campo da história e da sociologia, de modo a tornar a leitura dinâmica, dialética, no sentido de discutir arte e sociedade.

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