Abstract

Este artigo apresenta alguns aspectos da obra do pesquisador inglês Tony Bennett (1988, 1998, 2008, 2011) sobre as políticas culturais e os circuitos artísticos. O autor adota o conceito de governamentalidade, proposto por Foucault (2016), e sugere que o encontro da estética pós-kantiana com o pensamento liberal, no final do século XVIII, criou condições para que as artes e a cultura passassem a ser vistas como um campo de governo. Essa tendência é visível no desenvolvimento das políticas culturais, especialmente a partir de meados do século XX e, mais recentemente, na difusão do conceito de economia criativa. Em seguida, a proposta é avançar sobre o pensamento de Foucault (2008), especialmente sobre as noções de empreendedorismo e capital humano. A hipótese é que um dos fatores que faz dos circuitos da arte um foco de interesse na sociedade atual é a maneira como os artistas investem a própria vida na criação de suas obras. Com isso, multiplicam-se grupos de interesse, que lutam por melhores condições de trabalho e políticas públicas. Por outro lado, corre-se o risco de que as redes se fechem em seus próprios circuitos, fragmentando o campo cultural. O desafio é fazer com que as artes e a cultura se transformem, de fato, em um bem comum, que faça parte do cotidiano da população.

Highlights

  • This article presents some aspects of the work of the British researcher Tony Bennett

  • liberal thought at the end of the eighteenth century allowed for the arts

  • cultures to be understood as a governmental field

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Summary

Foucault e os estudos sobre a cultura

Bennett não foi o primeiro pesquisador de sua área a dialogar com Foucault. Nos anos 1960, os fundadores dos Estudos Culturais, entre eles Raymond Williams (1967) e Stuart Hall (1980), procuravam diferenciar dois conceitos de cultura: o primeiro, relacionado ao campo autônomo das Belas Artes, remete a certo “ideal de perfeição”; já o segundo, adotado pelos pesquisadores, é mais amplo e refere-se ao “ato de atribuir e de receber sentidos”. Contudo, Bennett (1998) também afirma que, apesar do engajamento de Williams, por muito tempo, questões sobre políticas públicas estiveram praticamente ausentes dos debates propostos pelos Estudos Culturais. Por mais importante que seja a defesa da herança cultural, não podemos desconhecer que a essência do homem como criador de cultura reside em sua criatividade, em poder romper com o passado ao mesmo tempo que dele se alimenta (...). Alguns pesquisadores (pertencentes a uma geração que Hesmondhalgh, 2013, chama de quase-foucaultiana, por se desviar de seus propósitos iniciais) voltou a atenção para novas formas de políticas públicas, que tinham o objetivo de expandir o papel econômico das indústrias culturais, agora chamadas de indústrias criativas. As artes certamente estão inseridas nesse modo de gerir a vida que, de alguma forma, já estava presente antes mesmo de serem fundados os Estudos Culturais e se intensificou, vertiginosamente, a partir dos anos 1980

Um campo de governo
Considerações finais
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