Abstract
Porto Digital é uma política implantada no ano de 2000 e gerida por uma Organização Social (OS) que tinha como objetivos iniciais inserir Pernambuco no cenário tecnológico e contribuir com a revitalização do Bairro do Recife. Ao longo dessas duas décadas, essa OS se consolidou como um importante ator no planejamento urbano, ao associar conceitos em moda no debate sobre inovação. O objetivo deste trabalho é demonstrar como essas narrativas são instrumentalizadas como marketing urbano. Trata-se de uma pesquisa explicativa sobre a construção, a evolução e os principais impactos do Porto Digital, graças à coleta de dados bibliográficos, documentais, entrevistas e observação. Percebe-se, assim, um processo de gentrificação com manipulação da identidade, êxodo de parte da população e valorização de imóveis a serem consumidos sobretudo por empresas. Entende-se que a instrumentalização desse debate inovativo como marketing urbano permite tanto impulsionar negócios quanto servir como cortina de fumaça para os problemas sociais.
Highlights
Porto Digital é uma política pública criada pelo governo de Pernambuco no ano de 2000 com os objetivos iniciais de inserir o estado no “cenário tecnológico e inovador” e de contribuir com a revitalização econômica e urbana do Bairro do Recife especificamente
Havia certa dificuldade de entrada de nova população que consumisse e reformasse os imóveis históricos
A ideia de um parque tecnológico uniu-se ao processo de revitalização desse sítio histórico, com maior aceitação da entrada de empresas do que de população residente para custear a recuperação de imóveis, considerando que geralmente o metro quadrado de escritórios é mais caro do que o residencial
Summary
Com a escassez na geração de renda e de empregos após a crise dos anos 1970 e em recursos federais na gestão liberal do presidente Ronald Reagan (1981-89), algumas cidades estadunidenses adotaram incentivos fiscais e urbanísticos e de marketing com o propósito de aumentar a competitividade na atração de investidores para a realização de Parceria Público-Privada (PPP) em projetos de revitalização urbana e econômica de bairros deprimidos de investimento. Entende-se gentrificação como um processo que converte um bairro desvalorizado – opção de moradia e de trabalho da população de baixa renda – em uma mercadoria valorizada a ser consumida pela classe média, por empresas e turistas, ampliando, assim, a reprodução do capital na cidade em negócios turísticos, de entretenimento e/ou imobiliário. Em 2000, foi criada a política estadual do Porto Digital com os objetivos de “inserir Pernambuco no cenário tecnológico e inovador do mundo” e contribuir com a revitalização econômica e urbana daquele bairro, mediante a geração de renda e empregos, a ocupação e o restauro de imóveis de valor histórico por equipamentos-âncora e empresas de TIC e a distribuição de oportunidades, considerando a Comunidade do Pilar, uma favela situada no próprio bairro. Sua governança é reconhecida em citações em jornais e revistas, eventos e premiações, com destaque para o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, em 2017, promovido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) na nova categoria de “iniciativas de excelência em gestão compartilhada do Patrimônio Cultural”
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