Abstract
António José da Silva (1705-1739), chamado “o Judeu”, é considerado um dos dramaturgos portugueses mais importantes, bem como uma das vítimas mais famosas da Inquisição Portuguesa. Menos conhecidas são as Obras do diabinho da mão furada, uma novela moralizante e ao mesmo tempo irónica, que, desde o século XIX, é regularmente atribuída ao poeta setecentista. Neste estudo, após um resumo do intenso debate sobre a autoria do texto, analisa-se os processos inquisitoriais contra António José da Silva, especialmente o primeiro processo porque possivelmente influenciou a redação do texto. Examina-se com pormenor aquelas passagens que contêm referências explícitas e implícitas ao Santo Ofício, acrescentando uma breve discussão sobre a influência deísta na novela. Conclui-se a argumentação indicando o quanto as Obras do diabinho da mão furada são de facto uma crítica satírica ao catolicismo e à Inquisição, escrita por um antigo preso desta instituição.
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